terça-feira, 5 de abril de 2005

SÓ UM BOLO E UMA BOLA



Tava pensando numa coisa. Hoje em dia não basta dar uma festa de aniversário para o teu filho. Também não basta a festa ter um tema, não basta arrumar a mesa, fazer um bolo especial, não basta um monte de balões, não basta mandar fazer um convite modernérrimo e dar de presente, para todos os convidados, uma lembrancinha muito melhor que os presentes que seu filho ganha. Tudo isso ainda existe, mas tem que ter mais uma coisa.
Mais?
É. Hoje em dia aniversário de criança tem que ser em lugar esdrúxulo, com uma atividade mais esdrúxula ainda.
Caramba, quem tem filho pequeno sabe direitinho como que é. É como se só o aniversário fosse pouco e a gente precisasse colocar mais coisas dentro dos aniversários.
Existem diversas festas dessas por ai. Tem a já manjada festa-boliche, onde você comemora o aniversário do teu filho num boliche. Leva tudo para lá: bolo, enfeite, mesa, brigadeiro, balão, aniversariante e, claro, todos os convidados, num ônibus fretado. Não é só um aniversário, entende? É um aniversário e um jogo de boliche. Outro exemplo: Festa-futebol. Igualzinho. Coloca tudo e todos no tal do ônibus, leva até a outra cidade no confundó do judas mas onde tem um verdadeiro campinho de futebol.
- Mãe! Tem uma festa- escalada amanhã! – falou um dos meninos uma vez.
- Hã?
- Festa escalada, mãe. É uma festa num daqueles lugares que você aprende a escalar uma pedra, com os ganchos e as cordas, junto com os monitores.
- Uma festa numa... pedra?
- Mãe, mãe... é uma pedra falsa. É de resina, tem colchãozão em baixo.
Olha, já vi festa cinema, festa-paint-ball, festa patinação, festa Hopihari, festa de andar de pônei, festa de velejar na represa, festa acampamento. É só ter imaginação e disposição para dar uma boa festa infantil hoje em dia.
E haja disposição... gente, como tem mãe animada nesse mundo... Devo ser preguiçosa demais, com as minhas festinhas simplórias em casa, com bolo e parabéns.
Na verdade eu furiosa com essa mania de gastar dinheiro e consumir diversão desse nosso mundo moderno. Faço discursos inflamados para os meus meninos, tenho teorias, arranco os cabelos. Falo que vou fazer uma campanha nacional, rádio, tv, jornais e blogs: “pela festa bolo e bola”: festas só com um bolo e uma bola no quintal. E já falei para eles que, se eles um dia quiserem festas estranhas, hahaha, eu consigo imaginar coisas muito mais esquisitas que as dos amigos deles.
- Gente! Vamos fazer uma festa- farmácia! - exclamei - Convidaremos todos, levaremos um bolo em forma de comprimido, faremos gincanas fabulosas no meio dos remédios, brincaremos de injeção e como atividade furaremos as orelhas de todas as crianças, que tal?
- Outra idéia: que tal fazermos uma festa-dentista? Imagina que delícia, todos no consultório, fazendo farra com os motorzinhos, concurso de cuspe, e, de brinde, luvas de borracha e máscaras! Vocês podem ficar girando, subindo e descendo na cadeira!
- E uma festa-banco? Cada um leva um cartão magnético, vai ser a maior farra nos caixas automáticos, pensem, é quase igual um vídeo game. Faremos teatrinho na gerência, colocaremos o bolo em forma de talão de cheques dentro do cofre. Não, pensei uma melhor! Uma festa- granja! No meio das galinhas, com monitores que ensinam a cacarejar! Mais! Uma festa- oficina mecânica! Mais! Uma- festa fábrica! Festa- banheiro de shopping! Não é legal, gente?
- Mãe - exclamou minha filha na época - Tá ficando maluca? É esquisito mesmo, mas pensa: para a gente, que é convidado, é tudo grátis. Você está reclamando do quê?

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