domingo, 16 de janeiro de 2005

e afinal, o que fica?


green bowl and balck bottle
p. picasso

Nesse domingo de chuva, ficamos com um pedaço da crônica do Ferreira Gullar, que agora escreve na Folha de São Paulo.
Pois a vida e a arte são exatamente assim, olha que máximo:
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"... Mas estamos falando da disparidade cultural entre aqueles jovens artistas brasileiros e a arte concreta européia, a que haviam aderido. Amilcar (de Castro), embora tivesse seu modo próprio de conceber a escultura, desejava que suas obras ganhassem o mesmo acabamento e precisão das de Bill (Max Bill) e, por isso, saiu inutilmente em busca de uma oficina que servisse a seu propósito. Depois de muito, convenceu-se de que aquele acabamento só era possível obter com a tecnologia européia. Esta foi a razão -a meu juízo- que o levou a optar por uma escultura feita de placas de ferro, cortadas a fogo, sem ionização, sem pintura, expostas à ferrugem.
Assim se fazem as obras de arte, como tudo o mais, dentro das condições que a realidade possibilita. O que não lhes tira o valor. É que a obra de arte, antes de ser feita, não estava latente em algum ponto oculto do real nem possui uma forma a que fatalmente o artista chegaria guiado por mão divina: a obra é fruto da invenção do artista, de uma interação entre objetividade e acaso, acerto e erro. Como disse certa vez mestre Picasso: "Se quero pôr no quadro um azul e não o encontro na caixa de tintas, ponho um verde mesmo"."
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Caraaamba. Lindo demais, não?
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Quanto ao Machado de Assis, já disse que acabei de ler o Dom Casmurro. O que eu posso falar? Que o livro só se fez assim, incrível, porque o autor, a cada instante que não encontrava um azul, colocava um verde mesmo.
Porque quem cria sabe. O importante é aquele instante onde a idéia nasce e precisa andar sobre as próprias pernas.
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Bem, e ninguém me tira da cabeça que as mulheres entendem isso mais que os homens - afinal, só quem já germinou percebe como é inevitável o nascimento.
Completamente inevitável.
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E que maravilha um autor que a cada capítulo que escreve, pensa e reflete. Pensa que é pouca coisa? Que nada. Essa que é a coisa. Pensar e refletir.
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Olha, e sobre o avião do Lula...
Deviam colocar uma câmera lá dentro duma vez, com transmissão ao vivo de 20 minutos antes do BBB5 ou assinatura num canal pago. Aí que a coisa ficaria divertida. Afinal, só se fala nisso mesmo! Nunca vi tanta reportagem, hoje tinha até uma foto do chuveiro do Lula!
Imagina todos os brasileiros vidrados na TV, olhando o interior do Aerolula o dia todo, reparando o que o Lula comeu, as bobagens que falou, quem entrou na saleta, se ele tomou banho naquele dia, se arrotou, se dorme depois do almoço...
O único problema é que não ia ter eliminação, pois o nosso homem tem imunidade presidencial.

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