sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

clic clic trim trim bang bang


olha o jeitão dessa máquina fotográfica, como era!

Depois de falar dos celulares revólvers, coloco aqui a crônica do celular máquina fotográfica, que publiquei no Moda Almanaque há dois meses.
Bis.
É divertida.

clic clic, trim trim

Meu sonho de consumo de hoje? Um celular com máquina fotográfica.
Juro. Queria saber como esses publicitários conseguem convencer a gente tão facilmente da necessidade de umas coisas tão desnecessárias. Claro que eu não preciso urgentemente de um celular com máquina fotográfica, acho que ninguém precisa, a não ser aquele rapaz que viu um disco voador no meio de uma floresta e usou o celular para captar a imagem da nave na horinha. Mas as propagandas são tão fantásticas, os aparelhos tão lindos e eu tão consumista, que atualmente só penso nisso.
É que fiquei um pouco enciumada na semana passada. Recebi alguns amigos para jantar e numa certa altura todos sacaram suas armas, ops, seus celulares para bater fotos. Disseram que era para colocar na agenda do celular deles.
No mundo de hoje ou você se dá bem com as câmeras ou está fora. Eu, que sou o desastre da fotogenia, posei para as tais fotos e fiquei delicadamente pedindo a um e a outro para alterarem minhas fotos: num dos telefones eu estava de olho fechado, no outro estava torta, no outro uma baleia de gorda. No final, o que era para ser um jantar virou uma sessão fotográfica. Eu só não fui mudar de roupa e pentear o cabelo porque iam me achar super caipira, mas olha, morri de vontade. Acho que ninguém mais se arruma para tirar foto. Também, com a quantidade de câmeras fotográficas, filmadoras e webcams que existem, ser fotografado ou filmado é a coisa mais normal do mundo.
Há uns anos atrás, tirar uma foto era um pequeno ritual. Arrumávamos o cabelo, ajeitávamos a roupa, parávamos quietos e sorríamos. E quando alguém pedia para você bater a foto? O cuidado com que pegávamos a máquina dos outros, com apenas dois dedos, sem encostar em nada? Tirar foto era coisa séria, gente, e as máquinas não eram vendidas assim, dentro de qualquer... telefone.
Ainda morta de vontade de ter o meu telefone com máquina, parei para olhá-los numa vitrine no shopping quando chegou o vendedor.
- Para que as pessoas usam a máquina fotográfica do celular? – perguntei, cínica.
- Para tirar fotos, ora! – ele se espantou – É muito bom poder tirar fotos a qualquer hora.
- E o que eu faço com elas? – indaguei, para ver o que ele respondia.
- Você coloca na agenda do celular. Assim, se o fulano te liga, você olha para o teu telefone e vê a cara da pessoa – ele explicou.
A segunda explicação, que também não me convenceu, veio em seguida.
- Além disso, você pode mandar uma imagem para outra pessoa que tenha telefone que recebe imagem. Por exemplo, você pode tirar uma foto comigo aqui na minha loja e mandar para alguém. A pessoa vai receber a mensagem, olhar e ver que você está na loja e comigo. Não precisa nem explicar, nem falar. Uma imagem vale mais que mil palavras. Não é incrível?
É.
Mas o mais incrível é que eu, uma pessoa adulta, formada e mãe, possa aceitar essas explicações esdrúxulas, não acreditar nelas e ainda querer ter um celular com máquina fotográfica. Sei que para os médicos ou engenheiros a coisa deve ser útil, mas não para mim. Eu me sinto como aqueles índios que querem possuir coisas que brilham pertencentes aos homens brancos. Uma “pocahontas” no shopping.
Poderia inventar uma explicação mais inteligente, dizer que tudo que agiliza a velocidade e qualidade da informação é válido, que para viver bem precisamos nos comunicar com facilidade. Mas prefiro a idéia do ET, que é mais divertida.
E se aparece uma nave espacial na minha frente? Nunca se sabe...

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