terça-feira, 30 de novembro de 2004

O REI ESTÁ NÚ


ALÔ, FHC!

Adorei as declarações do FHC no jornal de hoje.
Não que eu concorde com tudo que ele diz, como o Zé (um dia o Zé me disse que o FHC era um gênio e que ele faria TU-DO que o FHC mandasse. "E se ele te mandar pular dum abismo, Zé?", perguntei, "você salta?". "Há, eu pulo, claro! Ele deve ter uma boa razão para acabar comigo..."), mas volta e meia concordo com ele.
Hoje me surpreendeu a capacidade de síntese da análise dele sobre o governo do Lula. Saber resumir a opinião em poucas frases é das coisas que eu mais admiro hoje em dia. E não sou só eu, claro.
As frases do FHC eram tão boas que voaram rapidamente para a capa do jornal.
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"Este governo é incompetente. Ele é incompetente. Incompetência não é ofensa. E competência é a análise de um conjunto de ações e de seus resultados. Vejam o que está acontecendo. Digam, comparem, mostrem. É verdade. Quem sabe ele melhore a sua competência. E o governo só não deixa transparecer mais a sua incompetência porque o presidente Lula é competente em falar com a população. Mérito dele. E isso de alguma maneira embaça a percepção de quanto a coisa não anda"... Segundo FHC, foi preciso passar "por toda a experiência do PT" para descobrir "que eles não têm proposta alguma diferente da proposta que estava em marcha no país". "Zero."
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Pois é exatamente essa a questão que me tortura, exatamente isso que o FHC falou: as propostas.
Quem tem proposta para as coisas que faz?
Zero, como diz nosso ex-presidente. Zero. Quase ninguém tem mesmo. E acho que esse que é o divisor de águas do nosso mundo: os que tem propostas x os que não tem proposta.
Sabe, ter proposta é das coisas mais complicadas que existe. Quem começa a ter propostas entra entra num mundo que não sai mais: se você resolve um dia ter proposta, nunca mais faz nada sem proposta na sua vida.
Isso parece complicado, mas vou tentar explicar. Um sábado a minha amiga Silvia veio aqui. Sentamos no jardim e conversamos muito. Quando ela ia embora, ela me disse que saia da minha casa feliz porque tínhamos pensado muita coisa inteligente e bacana. Contamos, eram 3 coisas boas que tínhamos discutido. Digamos que nossa conversa resultou em 3 propostas.
Depois de uma semana, nos encontramos de novo. Falamos e falamos. Na hora de embora, ela me disse, triste, voltando para dentro de casa: "Iii, não posso ir ainda, nós ainda não tivemos nenhuma idéia hoje!". Ou seja, depois que descobrimos como é bom ter idéias e propostas, não há mais volta. Mas isso não significa que seja uma prisão. Ao contrário, é exercer a liberdade. E assim, queremos mais. A coisa vicia. É é delicioso.
Ter proposta é tudo. É preciso ter proposta na hora de escrever uma crônica, na hora de escrever um livro, na hora de conversar com alguém, na hora de escrever um email, na hora de escrever o post no blog. É preciso ter proposta para comida, proposta para a festa, proposta para o projeto e até proposta para montar um esquema de instalações elétricas. Proposta para criar filho, proposta para morar, proposta para trabalhar. Essa ideia vai longe. É apenas a ponta do iceberg.
Como viver sem proposta? Hein, seu Lula?

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