um grande presente que eu ganhei do Edu
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Passei uma grande parte da manhã do domingo me deliciando com o livro que eu ganhei de presente do Edu. Depois de olhar, olhar de novo com o Chico e olhar de novo, cheguei a conclusão que o Lartigue era nada mais, nada menos que um... BLOGUEIRO! É, é isso mesmo.
O livro tem um quê de crônica, de tirar poesia do cotidiano, de falar fácil com as imagens, de achar "graça nas coisas que não tem graça nenhuma", como diz a Silvia, minha melhor amiga.
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Acho que ele via a fotografia como eu vejo a literatura: como quem cata pequenas pedrinhas, folhas e flores ao longo dos dias, na rua que você anda, no seu caminho, no meio da tua vida; e faz delas a mágica e a necessidade da existência.
Apenas isso e tudo isso.
Tá meio lispectoriano esse post, mas é assim que eu vi as fotos desse homem que, em 1905, clicava sua familia, sua prima, seus pais e seu quarto.
Cada foto é uma cerimônia, dedicada à sua familia e ao seu cotidiano. E em toda cerimônia clicada com amor as fotos ficam para sempre.
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Agora, é necessário colocar o Rilke. Afinal, foi assim que tudo começou na minha vida literária:
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“Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, ninguém. Não há senão um caminho.Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza - relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente.”
R. M. Rilke, "Cartas a um jovem poeta"
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Legal, não é? E aqui embaixo vai a foto da prima saltando, voando, sem pensar no enorme tombo que vai levar.
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