sábado, 13 de novembro de 2004

andando pela cidade


valverde, anatomia feminina

Que dor no corpo. Caramba.
Acho que eu já posso falar sobre isso: parar de fumar. Enquanto eu não tivesse certeza que tinha parado mesmo, achei melhor ficar caladinha. Agora, quase dois anos depois, acredito que devo ter parado de fumar. Ainda tenho algumas dúvidas, mas espero estar enganada.
Bom? Não, foi bem ruim parar de fumar. Eu adorava aquilo, e perdi uma coisa que eu adorava. Isso nunca é bom, desculpaí os que acham diferente, mas foi péssimo. Foi como perder um amigo, e isso nunca é bom. Não houve nada que substituisse o prazer de fumar, tive apenas que dar tempo ao tempo, esperar a vontade passar e esquecer o cigarro.
Foi quando eu dei aquela "engordadinha". Olha, não passei a comer muito mais não. Acho que cigarro emagrece e muito, só pode ser isso. Ao longo de um ano, além de perder meu amigo cigarrinho de todas as horas, perdi, lentamente, todas as minhas calças jeans (o caso que contei no livro do Prata é verídico), todas as saias e vestidos. Muito? Não, uns cinco, seis quilos, o suficiente para me deixar arrasada e mal vestida.
Relutei uns seis meses para acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, até o dia que a calça apertada passou a me machucar. Fazer o quê? Regime? Ginástica?
Regime eu faço na medida do possível, sempre. Que mulher que não faz? Pensei em começar uma ginástica também, mas achei que deveria ir com calma, pois tendo fumado tanto tempo, tive receio de ter um treco e cair dura na primeira corridinha. Achei que deveria deixar meu corpo, um corpo de fumante, se acostumar a ser um corpo não-fumante antes de exigir muito dele.
Olha que idéia ridícula para uma preguiçosa como eu.
Uma hora num deu mais. Tava me dando falta de ar para subir no andar de cima da casa, e, mesmo falando para mim mesma que corpo de mulher não é feito para fazer ginástica porque os peitos balançam muito, resolvi tomar uma atitude. Era bunda na cadeira, bunda no carro, bunda no sofá, mas tava tudo travando, desengrenado, eu com aquelas roupas apertadas, com aquela falta de ginástica, com aquela pele meio mole.
Tive a maior aflição, parecia que eu tinha um corpo desintegrado, com umas partes meio perdidas aqui e ali.
Um, dois e já. Comprei três calças um número maior, comprei umas batas indianas mais folgadas, um tênis e uma calça de ginástica. E sai pelas ruas para andar, andar, andar.
Tou toda dolorida.
Quer saber? Parar de fumar também dá isso: dor no corpo todinho.

Nenhum comentário: