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A vida dela, às vezes, também não tinha a menor graça. Ela não sabia viver, só fazer ficção. Precisava sempre de um cenário, precisava sempre de gente ao redor. É, personagens, um monte deles. Era melhor não perguntar muito, que ela não saberia responder ou explicar porque as coisas eram assim. Era assim, era apenas assim.
Ela era uma moça perdida, buscava uns sonhos bobos, inventava, mentia o tempo todo, era medrosa, não ia nem ao cinema sozinha, vivia em casa, era comportada, trabalhava feito maluca e precisava de tempo e de paz para poder escrever. Não desejava mal a ninguém, não fazia maldade, mesmo depois que descobriu o quanto as palavras podem acariciar, arranhar ou machucar. Elas, essas tais palavras. Essas irritantes palavras que se impregnaram nela como feridas secas, que a faziam chorar mais que música, mais que medo, mais que alegria. Que ela podia fazer? Escrever era a sua prisão, o seu asilo, sua escola, sua cama toda suja de porra. Era mais do que isso. Era aquilo que crescia dentro do seu corpo e que precisava ser expelido, como um corte na pele, como um fluxo de sangue que não cabe na veia, como uma lágrima que explode de dor diante dos olhos. Era completamente obsessiva pela escrita, escrevia como quem atacava um inimigo numa guerra, como quem fazia amor, como quem tinha uma fome ancestral. Escrever era mais que apenas viver. Era algo que a fazia grande, que a fazia existir mais do que existia naquela porcaria de mundo real. E, se escrever a fazia rir, é porque era preciso rir naquele momento; se a fazia chorar, é porque era absoluta a necessidade de perder o controle. Era muito, muito mais que isso. A escrita existia apenas porque ela queria ser normal, porque ela queria ser querida, porque era carente de tudo e de todos, porque ela era uma mulher triste, e porque na verdade ela não entendia nada. Porque era apenas mais um mísero momento da vida. E porque era lindo.
Ela deveria pensar onde é que aquilo ia dar. Onde era o começo e onde seria o fim. Mas essa era a parte chata da história. E nesse dia ela não escreveu nada, nadinha, embora o romance já tivesse começado."
Ela deveria pensar onde é que aquilo ia dar. Onde era o começo e onde seria o fim. Mas essa era a parte chata da história. E nesse dia ela não escreveu nada, nadinha, embora o romance já tivesse começado."
Um comentário:
Qual o nome do texto e o nome do auto? obg
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