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Já foi a Casa Cor esse ano? Essa é uma das perguntas que eu mais ouço.
A Casa Cor, para quem não sabe, é uma exposição anual de decoração que acontece numa casa da nossa cidade. Cada ano é num lugar, e cada ambiente dessa casa é destinado a um decorador, que usa o espaço para mostrar seu talento e sua criatividade.
E por que é que eu tenho essa implicância com a Casa Cor?
Não sei. Acho que é um lugar estranho. Não acredito muito em decoração, e mais ainda do modo que ela é colocada nessa mostra.
Acho que as pessoas passaram a complicar a vida. Antigamente não existia tanto decorador, e as pessoas se viravam sozinhas quando iam morar em algum lugar. Era muito simples. Uma sala tinha que ter sofá e poltronas, ladeados por uma mesinha lateral, uma mesa de centro e uma tv. Na parede, quadros que tua tia pintava quando era artista e meio hippie. Você podia comprar os móveis em qualquer lugar. Podia, inclusive, trazer umas coisas da casa da tua mãe e reformar aquele sofá que ganhou do amigo que foi morar fora. Para resolver as cortinas você chamava o cortineiro, aquele do bairro, ele trazia os tecidos e você encomendava. Nas suas viagens trazia uns bibelôs, no teu quarto colocava a tua cama, a mesinha com abajur, uma colcha comprada nas Pernambucanas e assim ia montando devagarzinho a tua casa. Você podia trocar os móveis de lugar, inverter, testar se ficava bom o sofá embaixo da janela. Era tão fácil, tua vida se encerrava ali e aquilo era problema teu, só teu.
Mas agora não é mais. É também dele. Do decorador que você foi arrumar.
É, virou moda ter um decorador, todo mundo quer ter um. Funciona como uma espécie de marca, você pode usar o nome dele à vontade e ele define a tua maneira de morar, o melhor, o teu “estilo”. É mais ou menos o seguinte: além de decorar a sua casa, o teu decorador diz “como” e “o quê” você vai fazer lá dentro. É impressionante isso: ele te inventa coisas que você nunca tinha imaginado fazer na vida. Você vai ter uma sala de ginástica. Vai ver filmes numa sala de cinema, vai ter um jardim de inverno, chamado de “gazebo”, vai cuidar de uma horta, vai ser chefe de cozinha num ambiente com eletrodomésticos modernérrimos, vai ter uma “family room”. Como você não pensou nisso antes?
- Aqui a gente coloca um sofá enorme para você ficar lendo um livro.
- Ler? Mas aqui não é o corredor do apartamento?
- Era, não é mais. Agora aqui é uma “sala de leitura”. E ali adiante é a biblioteca – declara o teu novo decorador, apontando o resto do corredor.
Isso tudo está lá na Casa Cor. A decoração, as idéias e os estilos de morar. Os cenários para a tua vida estão na Casa Cor, e você escolhe qual quer usar.
Além disso, a Casa Cor é o local que mais tem sala no mundo. No final das contas, todos os decoradores querem mostrar como são bons para fazer “sala” e transformam tudo em sala de estar. Acho que é o local com mais sofá por metro quadrado da paróquia. Às vezes, no meio daquele monte de sala de estar achamos uma privada:
- Olha, que mau gosto. Colocaram uma privada na sala.
- Sala? Isso aqui é o lavabo da casa.
Tem sofá no jardim, sofá no banheiro, sofá na cozinha, sofá no terraço, no quarto e na garagem. Está certo que sofá é um lugar delicioso para se ficar, mas não é preciso exagerar. É, acho que ter estilo é isso. Você já foi a Casa Cor? Vai lá ver. Haja sofá...
Já foi a Casa Cor esse ano? Essa é uma das perguntas que eu mais ouço.
A Casa Cor, para quem não sabe, é uma exposição anual de decoração que acontece numa casa da nossa cidade. Cada ano é num lugar, e cada ambiente dessa casa é destinado a um decorador, que usa o espaço para mostrar seu talento e sua criatividade.
E por que é que eu tenho essa implicância com a Casa Cor?
Não sei. Acho que é um lugar estranho. Não acredito muito em decoração, e mais ainda do modo que ela é colocada nessa mostra.
Acho que as pessoas passaram a complicar a vida. Antigamente não existia tanto decorador, e as pessoas se viravam sozinhas quando iam morar em algum lugar. Era muito simples. Uma sala tinha que ter sofá e poltronas, ladeados por uma mesinha lateral, uma mesa de centro e uma tv. Na parede, quadros que tua tia pintava quando era artista e meio hippie. Você podia comprar os móveis em qualquer lugar. Podia, inclusive, trazer umas coisas da casa da tua mãe e reformar aquele sofá que ganhou do amigo que foi morar fora. Para resolver as cortinas você chamava o cortineiro, aquele do bairro, ele trazia os tecidos e você encomendava. Nas suas viagens trazia uns bibelôs, no teu quarto colocava a tua cama, a mesinha com abajur, uma colcha comprada nas Pernambucanas e assim ia montando devagarzinho a tua casa. Você podia trocar os móveis de lugar, inverter, testar se ficava bom o sofá embaixo da janela. Era tão fácil, tua vida se encerrava ali e aquilo era problema teu, só teu.
Mas agora não é mais. É também dele. Do decorador que você foi arrumar.
É, virou moda ter um decorador, todo mundo quer ter um. Funciona como uma espécie de marca, você pode usar o nome dele à vontade e ele define a tua maneira de morar, o melhor, o teu “estilo”. É mais ou menos o seguinte: além de decorar a sua casa, o teu decorador diz “como” e “o quê” você vai fazer lá dentro. É impressionante isso: ele te inventa coisas que você nunca tinha imaginado fazer na vida. Você vai ter uma sala de ginástica. Vai ver filmes numa sala de cinema, vai ter um jardim de inverno, chamado de “gazebo”, vai cuidar de uma horta, vai ser chefe de cozinha num ambiente com eletrodomésticos modernérrimos, vai ter uma “family room”. Como você não pensou nisso antes?
- Aqui a gente coloca um sofá enorme para você ficar lendo um livro.
- Ler? Mas aqui não é o corredor do apartamento?
- Era, não é mais. Agora aqui é uma “sala de leitura”. E ali adiante é a biblioteca – declara o teu novo decorador, apontando o resto do corredor.
Isso tudo está lá na Casa Cor. A decoração, as idéias e os estilos de morar. Os cenários para a tua vida estão na Casa Cor, e você escolhe qual quer usar.
Além disso, a Casa Cor é o local que mais tem sala no mundo. No final das contas, todos os decoradores querem mostrar como são bons para fazer “sala” e transformam tudo em sala de estar. Acho que é o local com mais sofá por metro quadrado da paróquia. Às vezes, no meio daquele monte de sala de estar achamos uma privada:
- Olha, que mau gosto. Colocaram uma privada na sala.
- Sala? Isso aqui é o lavabo da casa.
Tem sofá no jardim, sofá no banheiro, sofá na cozinha, sofá no terraço, no quarto e na garagem. Está certo que sofá é um lugar delicioso para se ficar, mas não é preciso exagerar. É, acho que ter estilo é isso. Você já foi a Casa Cor? Vai lá ver. Haja sofá...
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