hummm... acho que vou publicar essa crônica na coluna...
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Ter filhos muda a vida duma mulher.
Primeiro que, de um dia para outro, você passa a conviver com uma mulherada danada. Sei lá de onde vem tanta mulher logo depois do nascimento de um bebê. Entopem a tua casa e a tua vida, não tem cafezinho que chegue. Cada uma vem com um presentinho na mão e setecentas mil dicas inúteis e infalíveis.
Anos atrás, essas mulheres ensinavam as outras a cuidar dos filhos. Educar era uma sabedoria passada através de gerações e amigas. Hoje não. Elas vem e te indicam profissionais, cursos, equipamentos e babás. Resultado: não sabemos mais fazer mais nada sozinhas.
Quando nós nascemos, éramos bebês idênticos aos bebês que nascem hoje. Pode parecer que estou falando bobagem, mas um bebê não é igual a um carro, que a cada ano muda de modelo. Existem hoje muitas inovações na medicina, até geramos bebês a partir de laboratório, mas as crianças nascem iguaizinhas, com o mesmo design e motor. E, se antigamente as mães cuidavam dos seus filhos sozinhas, por que nós precisamos de tanto manual de instrução? Será que perdemos nosso instinto maternal natural?
Acho que entendo. É que um bebê é simples demais, não nasce junto com uma lista de regras ou um DVD explicando como utilizar. Não é possível alguma coisa ser tão simples para funcionar e não precisar de mais nada além de você. Além disso, tem outra coisa meio estranha: depois de ter um bebê, alguma coisa torna as mulheres modernas, sempre tão inteligentes e sabidas, meio lentas para raciocinar.
A pediatra dos meus filhos me contou uma história engraçada. No meio da noite tocou o telefone dela. Era a mãe de um bebezinho com febre, atrapalhada e nervosa. Ela explicou para a mulher calmamente.
- Olha, faça o seguinte: dê um banho nele, cinco gotas de um antitérmico e...
- Ai, doutora, espera, espera... – falou a moça – fala mais devagar, por favor. Como que é? Cinco gotas?
- É. Cinco. Um, dois, três, quatro e... cinco – a médica repetiu.
- Cinco... cinco, tá. Mas... como é que eu dou para ele? – falou a mãe, aflita.
- Ué, com um conta-gotas, com uma colherzinha. Tanto faz – explicou a doutora – O importante é dar o remédio.
- Como? É complicado demais. Colherzinha? Mas... de que tamanho é essa colherzinha? – disse a mãe, confusa.
A médica conta que teve vontade de rir, a mãe simplesmente não entendia nada que ela falava.
- Uma colher de chá ou café, pequena... bom, de um tamanho que caiba na boca dele, claro – explicou.
- Hã? Colher de chá? Assim, colher... da gaveta? Da minha gaveta? Das que eu uso? – perguntou a mãe – Por favor, doutora, vai devagar que está complicado. Tem que ferver? Esterilizar?
- Olha, pega uma colher limpinha – falou a médica, paciente – Só isso. Se as suas colheres de chá estiverem muito sujas, ferva. E dê o remédio para ele que ele vai melhorar. Certo? – ela concluiu, tentando encerrar o assunto.
- Espera, não desliga, doutora! – implorou a mãe – E... por onde que eu dou?
- Como, “por onde”? – estranhou a médica.
- É... para dar pela boca dele?
- Pela boca dele, claro! – a médica respondeu, espantada.
- E se não entrar? E se ele cuspir? – falou a moça, quase chorando.
- Coloca de novo, dá um jeito! Senão, se ele vomitar, podemos tentar um supositório de...
- Não! Nem pensar! – desesperou-se a mãe – Ei... mas quantas gotas eram mesmo?
- Cinco! – riu a médica, diante da confusão.
- Do que mesmo? E... como mesmo que dava? Explica, só mais uma vez! PeloamordeDeus!
Olha. Acho que não merecemos mais ser mães. Perdões, meus filhos. Pensando bem, não me lembro direito, mas acho que já ouvi esse diálogo em algum lugar. Será que essa era eu?
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