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Volta e meia meus filhos são convidados para aquelas festas de criança que acontecem dentro de lanchonetes. São festas fast food, uma promoção que muitas vezes resolve a sua vida: “faça uma festa rápida e prática para o aniversário do teu filho”. Mas é tudo muito rápido mesmo. Mal a festa começa ela já acabou, e, se você não tomar cuidado, nem vê a cor do bolo.
Quando minha filha era pequena, fui levá-la a uma dessas. Chegamos um pouco atrasadas e... babau. Neca de festa, não tinha sobrado um único brigadeiro. Tive que comprar um lanche e jantar com a menina, que ficou inconsolável, sem entender onde foi parar todo o mundo.
Um tempo depois ela foi convidada para mais uma festa fast food. Uma mãe, amiga minha, se ofereceu para levá-la, pois eu estava trabalhando naquele horário. Eu só tinha que buscá-la no final da tarde.
Quando chegou a hora, saí correndo do escritório direto para a tal lanchonete fast food, que ficava numa avenida movimentada. Estava morrendo de medo de perder a hora e minha filha ir parar sabe-se lá onde junto com o resto dos brigadeiros e balões. Lembrei que daquela outra festa não sobrou nada, nadinha mesmo.
Cheguei. Uma criançada correndo de lá para cá. Achei a mãe da aniversariante, uma loirinha simpática, que eu não conhecia.
- Olá. Sou a mãe da Lú. Vim buscar.
- Tudo bom? Patrícia, prazer. Mãe da Bruna.
- Deu tudo certo no aniversário da Bruna?
- Ah, aqui sempre dá, né? Divertiram-se muito. Estão todos lá fora, no play ground, com o animador.
Eu saí para achar a Lú. Olhei em tudo quanto era canto e nada. Procurei nos brinquedos. Nos cantos. Nos banheiros, no salão. Nada da Lú. Ué, onde essa menina tinha se metido? Será que fora embora com alguém? Fui atrás da tal de Patrícia.
- Patrícia.
- Oi.
- Você viu a Lú, minha filha?
- Não está lá fora? Como não? AimeuDeus. Nossa, isso me dá nervoso. Esperaí, eu te ajudo, vamos achar – falou a mulher, meio aflita e estabanada.
E nada da Lú. Procuramos de novo, eu e ela já completamente nervosas, berrando o nome da minha filha, perguntando aos monitores e animadores, feito duas loucas. A Patrícia me olhou e perguntou:
- Ela está de uniforme? Não é uma daquelas ali?
- Onde?
- Aquelas, de uniforme. Ali.
- Não tem ninguém de uniforme ali, Patrícia – respondi, olhando uma turma de meninas pequenas.
- Todas ali estão de uniforme, ué – falou a mãe.
- Mas o uniforme delas é azul, Patrícia – eu estranhei.
- Azul? Não, é vermelho! – falou a Patrícia.
Foi ai que eu comecei a desconfiar.
- Vermelho? Espera. Que escola que a sua Bruna estuda?
- Como “em que escola”? Não é na mesma escola que a sua filha Lú estuda?
- Iii... Acho que me enganei, Patrícia. Vim na festa errada.
- Como?
Claro, errei de lanchonete, de fast food, de festa e de mãe. A Lú estava em outra festa, em outra avenida, com outra aniversariante e com outra mãe de aniversariante. Saí correndo dali feito maluca para a outra lanchonete, pois ainda corria o risco da outra festa acabar.
Cheguei, e era realmente uma festa idêntica. E lá estava a minha Lú, de uniforme azul. Aliás, todos ali estavam de azul. Ufa, alívio.
A Patrícia? Encontrei outro dia, descobri que ela conhece umas primas minhas. Hoje em dia os filhos dela e os meus cresceram um pouco. E estão todos na mesma escola, com a mesma cor de uniforme.
Amarelo.
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