.
.
.
Fomos ao cinema no feriado. Eu, minha mãe e minha filha. No meio do caminho, paramos num farol e minha mãe exclama:
- Essa padaria aqui é ótima. Quando eu morava aqui perto não era tão famosa, agora vive lotada. Olha, até ampliaram. Precisa ver na hora do almoço, fica entupida de gente.
- Agora tem muito escritório nesse bairro, mãe. Ainda bem que você mudou, a noite aqui é perigoso.
- E não fecha nunca, fica aberta a noite toda - ela completou, apontando o letreiro - olha ali escrito. Delivery.
A Nana interrompeu. Acho que ela percebeu antes de mim.
- O que tem a ver uma coisa com outra, vó?Ficar "aberto" e ser "delivery"?
Minha mãe deu de ombros, tranquilérrima.
- Ué. Tudo a ver, Naninha. Se fica aberto a noite toda, é delivéri.
Ela pronunciava assim. Delivéri. Interrompi.
- Hã? Que, mãe?
- Ora. Dia e noite e deli-véri não é a mesma coisa?
- Mãe, claro que não - exclamei, rindo - delivery é quando a loja ou restaurante faz entregas na casa da pessoa.
- Ahahaha, nossa, jura? Como sou distraída, filha, achei que era. Deli-véri, dia-noite - e ela passou a repetir, como se fosse um mantra - deli-veri, dia-noite, deli-véri, dia-noite... nossa, super parecido, e sempre achei que uma coisa deli-véri ficasse aberta dia-noite. Ahahaha, Nana, essa sua vó tá caduca mesmo.