quarta-feira, 11 de novembro de 2009

kit emergência?



Apagou a luz da casa bem devagarzinho. Achei que era um problema de elétrica da minha casa.
- Será que foi só aqui na nossa casa, Zé? Parece que tem luz lá fora.
- Vou na rua olhar se são todas.
Quando ele voltou, o João anunciou.
- Pai, não é só aqui. Meu amigo que mora no Paraíso tá sem luz. E o que mora perto da Heitor Penteado também. Acho que é em muitos bairros.
Nossa, como os adolescentes se comunicam rápido. Em seguida recebo um telefonema da Bê. Ela mora num prédio bem alto, vê São Paulo toda.
- Ouvi no rádio que é geral - ela me conta - Muitos estados, o maior apagão, daqui de cima eu só vejo as luzes de carros. Uma coisa super estranha. Vou tirar fotos. É lindo.
Corri e contei pra o Zé e para os meninos.
- Gente, apagou o Brasil todo, parece. Vamos ligar o rádio pra saber mais - eu disse - é um tipo de caos, precisamos saber mais!
- Nossa - falou o Zé - Claro! Vamos ouvir no rádio, alguém liga o rádio.
- Que rádio?
- Onde tem um rádio? - perguntou o João.
- Sei lá - disse a Nana.
- Sério que não tem rádio de pilha aqui em casa? - perguntou o Zé.
- Como não tem? - eu estranhei - tem os rádios relógios todos, péra, vou buscar.
Trouxe três para baixo. Abri as portinhas de trás, cada um tinha espaço para baterias super estranhas. Olhamos aquilo à luz das velas. Quem abre um compartimento de pilha hoje em dia?
- Que diabo de pilha é essa, vocês conseguem ver? - perguntou o Zé.
- Essa é daquelas quadradas, gordas - falou o João - daquelas antigas de brinquedos. E esse aqui usa umas meio gigantas, sei lá, mãe. E esse outro não sei, olha que estranho, tem uns fios pra fora.
- Não tem nenhum lugar onde tem uma dessas pilhas aqui em casa? - perguntou a Nana.
Saímos a busca de todos controles remotos, telefones e brinquedos velhos. Abrimos todos, perdendo tampinhas e quebrando unhas. Nada.
- E agora? - o Zé perguntou.
- Não tem rádio nessa casa mesmo! - um deles comentou.
- Como pode uma casa não ter rádio? - o Zé não se conformava.
- Já sei - lembrei - vamos ouvir no rádio do carro!
Saímos os 4 para fora, na escuridão, pois o Chico estava no show de um tal de Gogol Bordello, onde a luz não acabou, e entramos no carro do Zé. Ligamos o rádio e começamos a entender a encrenca, até que o João percebe.
- Que coisa mais ridícula nós 4 aqui dentro. Ainda por cima com o carro ligado, ar condicionado ligado e gastando gasolina, só para ouvir um mísero rádio? Como pode uma casa não ter um rádio, mãe? Vamos passar a noite aqui?
- Talvez meu celular tenha rádio - lembrou a Nana.
- O meu tem, mas está sem bateria - falou o Zé.
- O meu não pode gastar a bateria porque tenho que falar com o Chico - eu disse.
- O meu não tem rádio - lembrou o João, que tem um celular muito velho.
Abandonamos o carro e todos sentamos no chão da sala, ouvindo o "rádio" no celular mínimo da Luciana. A cena era mais ridícula ainda. Quatro marmanjos debruçados sobre um aparelhinho mínimo e franzindo o rosto para ouvir um som péssimo, e perguntando de dez em dez minutos para a menina quanto ela ainda tinha de bateria. Incrível como a gente depende de energia para tudo. Incrível como com tantos computadores, tvs de LSD, celulares e tecnologias, nessas horas a gente não tem como agir.
- É. Amanhã vou comprar um rádio de pilha... - decidiu o Zé - será que ainda existe para vender?
Pergunta: vocês tem rádio de pilha?

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