terça-feira, 10 de novembro de 2009

perdida nos cantinhos



Eu tenho uma mania de anotar coisas em cantinhos. Estou ao telefone, alguém me passa um número ou email, eu acho um cantinho e anoto. Cantinho de papel, cantinho de caderno, cantinho de propaganda. Anoto emails, telefones, recados. Tudo em cantinho. Dai perco pra sempre. É o mesmo que jogar no lixo.
- Lú, liga pra Sandra e combina o jantar com ela e o marido dela - falou o Zé ontem - eu te passei o telefone dela na semana passada.
- Passou mesmo, Zé. E eu anotei em algum lugar.
- Liga pra ela então.
- Não tou achando o lugar onde anotei. Era num cantinho de um papel, eu lembro. Mas sei lá de onde.
- Onde você estava?
- Aqui, na cozinha - eu respondo, remexendo os papéis de propaganda de pizzaria e disk-comida chinesa - Mas não tou encontrando.
Essa coisa do cantinho é bem insuportável. Geralmente as coisas escritas em cantinhos também são escritas com canetas sem tinta ou lápis de cores estranhas sem ponta, esses que ficam esquecidos nos potes velhos de lápis. No trabalho, então, como minha mesa vira o tradicional pântano ao longo do dia, às vezes passo horas caçando um número ou informação. Tento organizar a vida em cadernos e cadernetas, mas mesmo com as linhas muito claras na minha frente, acabo escrevendo nos cantinhos.
Tem uma coisa nos cantinhos que me lembra uma outra dimensão. As coisas escritas nos cantinhos somem para sempre, assim como os isqueiros, tuppewares, canetas bic, cortadores de unha e lapiseiras pentel, esses objetos que você só compra, que nunca acha novamente. O telefone da Sandrinha eu perdi mesmo. Tive que pedir de novo. Anotei desta vez na agenda do telefone. Que não tem cantinho.

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