sábado, 6 de dezembro de 2008

franka pinta o cabelo


Fui pintar o cabelo hoje. O processo é longo, demorado e chato. Morro de preguiça de pintar o cabelo, mas ver a minha imagem com o tom pálido dos fios brancos bem no meio do couro cabeludo, ainda mais quando se tem cabelos lisos, é bem deprimente. Não ando numa fase (essas fases existem) de estar "nem ai" e desencanar da aparência, portanto me precavi e marquei pra hoje, sábado. Caos maior do que cabelereiro no sábado não há. O certo é marcar durante a semana, num horário de aposentada, mas é impossível, claro. Fui, me apresentei, peguei a fichinha, esperei a moça me chamar. Depois de sentar na cadeira e me olhar no espelho, vem o rapaz, assistente dela e passa um gel na minha testa, ao redor do couro cabeludo, desde a testa até o pescoço. Ninguém explica nada, nunca explicou, mas acho que é pra a tinta do cabelo não entrar dentro da pele. Isso me assusta muito, imagine tingir a testa também? Depois surge a moça com um pote com uma meleca meio beje, que é passada nas raizes com um pincel largo, em camadas, primeiro em cima, depois descendo. Ele aplicam separando o cabelo com um pente, como se sua cabeça fosse uma plantação. Ai começa a pior parte: você tem que ficar com aquela meleca na cabeça, parecendo uma bruxa maluca de cabelos em pé por meia hora sem fazer nada. Eu sempre olho ao redor com desespero, mas parece que sou a única mulher que acha ruim. Todas as outras sorriem, conversam e não se entendiam. Olho no espelho e vejo que a meleca beje muda de cor, escurece feito uma massa de chocolate. Ganho uma revista, quando olho é uma Trip. A revista tem boas matérias, mas também um monte de mulher semi pelada em poses sexis, e concluo que como o lugar está lotado todas as revistas Caras e Contigos estão ocupadas, só me restou a revista dos homens. A cabeça coça, mas não se pode coçar porque a tinta mancha os dedos, começo a ficar aflita. Tento achar o rapazinho assistente para pedir um café, mas não me lembro mais quem ele era, todos são idênticos com cabelos espetados com alguns fios brancos. O tempo demora a passar, e eu começo a achar que me esqueceram ali. Sempre tenho esse pesadelo no cabelereiro - que vou ser esquecida com a pasta no cabelo e que aquilo é forte demais, que não pode ficar tanto tempo - e imagino que quando lembrarem de mim será tarde demais. O Jaques e a Janine vão me pagar uma mega indenização e mais um a mais pra eu ficar calada, mas eu ainda vou ter raiva deles e não vou me sentir vingada porque estou careca. Olho no relógio, passaram apenas quinze minutos e já li tudo que podia ler na Trip. Resolvo telefonar, mas lembro que a meleca suja todo celular e a mão, péssima idéia. Já no auge do desespero, o rapaz surge e avisa que vai passar a meleca no cabelo todo. Coloca luvas e me empastela toda. Avisa que vou ficar mais um pouco ali, esqueço de pedir outra revista e resolvo ler a Trip de novo. Mais coçeira, tento esquecer, barulho de secador, barulho de conversa, uma moça varre o chão. Sei que poderia passear, andar, dar uma volta anti-tédio durante esse tempo, mas a visão que tenho de mim mesma no espelho me afunda na cadeira como se tivesse sido pregada com pregos: estou simplesmente horrenda. Depois de uma eternidade, o moço surge de novo e avisa que vamos lavar. Tem gente que acha bom lavar, diz que é relaxante, mas eu devo ter algum problema no pescoço porque aquela posição e aquela pá-bacia de colocar a cabeça são horríveis para mim. Saio toda torta, feito árabe, volto pra cadeira e me esquecem de novo ali um tempo. A cabelereira surge toda sorridente, tira a toalha, avalia a cor, fica satisfeita e passa a cortar as pontas. Penteia, corta, mede, seca com secador, escova, arruma e coloca um espelho pra eu ver atrás. Eu sempre elogio, ela fica muito feliz. Saio esvoaçante e pintada. Olho no relógio: duas horas e dez minutos. Missão cumprida, agora só volto três meses depois.

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