quinta-feira, 1 de maio de 2008

próxima parada


Hoje lembrei disso o dia todo. Dos trens. Uma das coisas mais emocionantes da minha infância era esperar o trem. Meus avós moravam em Duartina, no interior de São Paulo, e eu passava todas as minhas férias lá. Nos finais de semana, meu pai, meus primos e meus tios chegavam. De trem. A gente ia esperá-los na estação, naquele silêncio de quem tenta captar um barulho de locomotiva vindo do além. A ansiedade nos fazia ouvir trens inexistentes, apitos caluniosos, tremores errados. Mas quando ele chegava de verdade (o trem sempre chegava), com a locomotiva apitando e existindo de verdade, era de pirar de excitação. Lembrei disso hoje, depois que vi um filme no Telecine Cult chamado "Júlia", com a Vanessa Redgrave e a Jane Fonda. Lembrei da sensação de ansiedade de esperar um trem que você sabe que vai aparecer de uma hora para outra numa estação, claro, óbvio, sem dúvida. Não tem porque o trem não aparecer ali, naquela estação que está no caminho dele, na rota dele, no meio do caminho, na passagem. Não tem porque a vida não correr, andar adiante, parar nas estações, pegar passageiros, deixar amigos, pais, maridos, amores, felicidade, puta alegria, puro prazer. É só saber esperar, com a paciência do passado, da memória, que os trens sempre chegam nas estações. Sempre.

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