sexta-feira, 2 de maio de 2008

a bandinha


- Lúcia, eu lembrei de uma coisa.
- Fala, Ângela.
- Da bandinha da nossa escola.
- Nossa, é mesmo. Tinha uma bandinha na nossa escola.
- No dia da pátria a gente dava a volta no quarteirão tocando a bandinha. A escola toda ia, desde os pequenininhos até os maiores.
- É verdade, paravam o trânsito todo na rua Frei Caneca, Ângela.
- Você tocava prato, e eu triângulo. Nunca me conformei com isso, Lúcia. Tocar triângulo era a pior coisa da bandinha.
- Era nada. O pior é tocar côco. Côco nem é instrumento. É côco.
- E você toda exibida lá no prato, Lúcia. Pááá. Pááá. Pááá.
- Era bom nada, o prato era pesado e só entrava de vez em quando. Era pááá... (demorava) pááá... Um tédio tocar prato, Ângela.
- Lembra da música? "Eu te amo meu Brasil, eu te amo..."
- Hahaha.
- A dona Eudóxia fazia a gente tocar o triângulo e fazer um sinal de positivo com o dedão. A gente ia tocando e fazendo positivo. Eu te amo (positivo) meu Brasil (positivo) eu te amo (positivo) meu coração (positivo) é verde (positivo) amarelo (positivo) branco (positivo) azul anil...
- Coisa mais louca, Ângela. Pra que o positivo?
- Acho que era pra marcar o ritmo. Ou não. Vai ver que ela achava que a música combinava com o sinal de positivo. Vai ver que ela queria que a gente mostrasse que amava mesmo o Brasil.
- No prato não dava pra fazer positivo. Pelo menos ninguém me mandou fazer positivo.
- Tá vendo? O prato era melhor. Um instrumento legítimo de banda.
- Era nada. Que tocador de prato famoso você conhece, Ângela?
- Nenhum, negativo. E de triângulo, Lúcia?
- Negativo também. Nenhum.

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