sexta-feira, 16 de maio de 2008

leilão de mulheres


Quando eu e a Ângela éramos pequenas, minha mãe nos mandava nas férias para o acampamento dos Pumas, em Campos de Jordão. Eu gostava de lá, apesar de achar esquisito ir para aquele lugar onde as pessoas faziam tantos esportes e tantas atividades. Porque eu não fazia, na minha vida normal de criança, tantos esportes e atividades. Porque na minha vida normal de criança, nas férias, eu não fazia nada além de brincar.
Chegávamos lá e recebíamos aquela "grade" imensa de programações. Aulas, campeonatos, festas, regras. Não sei quem inventou, desde aquela época, que nas férias você, criança, precisa de a-ti-vi-da-de. Brincar não basta?
Mas tudo para contar uma coisa que a Ângela lembrou outro dia. Nesse acampamento haviam diversas festas temáticas, e uma delas era uma festa romana. Acho que era romana, não me lembro bem, podia também ser grega. Não importa. Era à noite, depois do jantar, e tínhamos que ir todos vestidos com lençóis. Biquíni, maiô ou short em baixo e lençol em cima. E nessa festa existia uma coisa horrível, gente, acreditem: um leilão de mulheres. Por "lote". Juro. Verdade verdadeira mesmo. Funcionava do seguinte modo: todos os dias depois do jantar os acampantes, meninos e meninas, ganhavam doces. Você podia escolher entre um punhado de balas, dois bom-bons ou um barra de diamante negro, e esse era o dinheiro que era usado no leilão de mulheres - os doces.
Os meninos, desde que chegavam, eram avisados que deveriam "poupar" os doces para o dia do leilão de mulheres, que era quase no final das férias. Alguns deles, interessados em alguma menina, não comiam nada para poder comprá-las, já outros se juntavam para "comprar" mulheres juntos. "Comprar" significava ter a menina (com o "lote" junto) como sua "escrava" durante a festa toda - porém o máximo que as meninas podiam fazer (o pior é que a gente fazia) era dar refrigerante e comida na boca dos meninos. O que, pensando bem, é absolutamente ridículo.
Aliás, gente do céu o que era aquilo.
Claro que os lotes eram escolhidos pelos monitores, que colocavam, prudentemente, as meninas mais lindas junto das mais feias, organizando os desejos infantis para que nenhuma menina se sentisse mal - o que sempre ficava óbvio para todos nós. Quando eles, os monitores, viam que um certo "lote" não "vendia", eles mesmos arrematavam, o que também era o fim da picada. Além de ser uma situação humilhante - imagine meninas pequenas em "lote" em cima de uma mesa, enverganhadas, e um bando de meninos gritando - era uma festa bem idiota, que nunca entendi como era permitida.
Eu, que não era nem bonita nem feia, sempre ia parar nos lotes médios, arrematada pelos meninos médios, e nunca sofri com essa festa como algumas meninas que chegavam ao quarto aos prantos. Já a Ângela, uma jet-set famosa do acampamento, que sempre ganhava o troféu de "Garota Puma", tinha muitos fãs. Um deles era incondicional. Era um menino meio gordinho, que hoje é músico e que tem uma banda super famosa, que era a-pai-xo-na-do por ela e não escondia isso de ninguém. Fazia qualquer negócio para comprar a minha irmã, acho que ia ao acampamento para isso, mas era guloso enunca tinha doces suficientes. Um certo ano ele tomou uma atitude: juntou tudo que podia (coitado, morreu de fome) e conseguiu.
Comprou a Ângela.
Hahaha.
E ela, a minha irmã, me conta que no mês passado encontrou esse músico famoso sem querer numa festa. Ele veio comprimentá-la e falaram do acampamento. Foi quando ele olhou para ela, piscou e disse bem baixinho:
- Ângela, lembra que eu te comprei um dia?

Um comentário:

Anônimo disse...

lindo! extremamente orgastico