quarta-feira, 18 de julho de 2007

agora eu adoro ônibus

o quindim da minha mãe que "apenas deu errado"

Desde ontem a tardinha que eu travei e não consigo trabalhar direito por causa do acidente. Ontem eu ia para o Rio com um engenheiro, uma arquiteta e um técnico de som para ver uma obra. Organizei a viagem para eles e acabei desistindo de ir na última hora. Quando vi aquele rabo do avião da TAM na televisão, depois que o Zé me ligou porque tinha ouvido algo no rádio, fiquei em pânico. Ai. Seriam os meus amigos? Tremendo, liguei para um deles. O engenheiro, do outro lado da linha, disse alô. Ufa. Eles não conseguiram embarcar ontem e voltaram de ônibus.
A questão é que esses mega acidentes nos hipnotizam de um modo muito estranho. Dizem que é culpa da mídia, dos jornalistas, do excesso de informação. Mas acho que é mais que isso. Olha, eu sou super otimista. Sempre. A maior Polyanna do universo, eu. Estou sempre ignorando as coisas ruins da minha vida e olhando só para as boas. Por exemplo, preciso escrever aqui uma coisa sobre meu novo celular, mas só vou escrever amanhã, quando passar a minha raiva da moça que me atendeu na Vivo.
Mas surgem essas tragedonas e eu caio por terra. Ontem fiquei sentada, no mesmo lugar do sofá, das sete à meia noite com os olhos vidrados na tv. Sem me mexer, estatelada, olhando aquelas notícias repetidas. No meio daquele meu transe de horror, liguei para uma amiga. "Socorro", eu disse, "não consigo parar de olhar a tv. Porque eu estou fazendo isso? Será que estou gostando?", perguntei para ela. Ela disse não. Que achava que era solidariedade. Que no fundo a gente quer ajudar os outros, quer sofrer junto.
Já minha mãe me ligou umas setecentas vezes. Primeiro por causa do quindim dela que deu errado, depois por causa do avião que caiu. Ela é muito impressionável, e já disse aqui uma vez que ela um dia confessou que adora tragédia. É esquisito, mas ela sempre foi assim. A gente não precisa adorar só as coisas deliciosas, eu acho. Existe um componente do ser humano, que a gente teima em não aceitar que existe, que adora o sofrimento. A minha mãe já aceitou esse componente dela, e quando tem tragédia, é sempre a primeira a ligar. A cada desmoronamento ela telefonava de novo. Vai ver que é por isso que eu fiquei assim. Mas penso que se eu não tivesse tv, nem micro, nem rádio, a tragédia para mim não seria menor. O que houve foi uma coisa horrível, que a gente nunca imagina que aconteceria. Não é uma coisa que "apenas deu errado", como esse quindim que minha mãe fez e que desmantelou todo. Foi um treco pra lá de absurdo e incompreensível, que, na minha opinião, não teve a ver com a pista ou com o avião. Pra mim aquilo foi pânico do piloto. Um putz ato falho de um cara que, depois de ouvir milhões de coisas sobre caos aéreo, sobre quedas de avião e pistas mal feitas, teve um clic de medo numa derrapagem, se apavorou, e abortou errado o pouso. Não sei, impressão. As pessoas tem uns pânicos e não sabem, uma hora acontece. Olha. Só sei que eu não quero mais voar por uns tempos. Que medo. Viva o Terminal Tietê.

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