quinta-feira, 24 de maio de 2007

frankaguido


Sempre que eu viajo eu de visito e compro a coisa típica do lugar, e sempre isso me parece meio bobo. Aquela sensação de estar fazendo o que aqueles milhões de turistas fazem é um pouco assustadora. Mas ser esquisitona, em alguns casos, dá muito trabalho. Imagina o tamanho da explicação que eu teria que dar se eu fosse a Paris e não fosse no Louvre. Imagine ir para o Grand Canyon e não conhecer o Canyon. Ia ter que desenvolver umas teorias enormes, cheias de explicações e justificativas excêntricas. Talvez fosse até aborrecido me ouvir. Prefiro admitir que quando viajo, sou turista, mesmo diante da vergonha de ser mais uma no meio dos milhões que clicam desesperadamente diante dos monumentos e entopem as lojas de suvenirs.
No começo do ano eu fui pra Argentina. Não viajei muito na vida, tem muito lugar que não conheço. Não conhecíamos Buenos Aires, e lá fomos nós. Com o livrinho-guia em mãos, em três dias riscamos todos os itens. Conhecemos todos os bairros, feiras, edifícios e museus. Fomos a todos os passeios e assistimos shows. No quarto dia, estávamos livres.
- Nananinanão. Agora vamos comprar um sapato para você – falou o Zé.
- Sapato? Eu não preciso de sapato, Zé – retruquei.
- Estamos na Argentina, temos que comprar mocassim e alfarror. Tá no livrinho-guia.
Fui checar. Era verdade.
- Zé, sério, não é o caso de comprar sapato pra mim. Compra pra você.
- Não senhora. Você não gosta de alfarror, então eu fico com os alfarrores e você com o sapato da Guido.
Fazer o quê. Lá fomos para uma das lojas do tal sapato. Uma volta ao passado. Quando estava na escola comprávamos mocassins por encomenda numa lojinha perto da Augusta chamada Adriano. A loja argentina era parecida. O vendedor, inlusive, a cara do seu Adriano.
O senhor Adriano que me atendeu resolveu escolher por mim. Achei ótimo, estava indecisa. Ele disse que eu deveria levar o mais tradicional. De couro, baixinho, com fivelinha dourada. Falou horas sobre o couro, explicou como o sapato era feito. Um clássico. Coloquei no pé, serviu como uma luva (talvez melhor como uma meia?). Sai da loja com a sacolinha, com o saquinho da loja, com flanelinha para limpar. Pronto, eu tinha ido para a Argentina. Compramos um monte de alfarrores, e aí estávamos livres mesmo. Ficamos mais dois dias nos divertindo e voltamos.
Essa semana soube de um conhecido que adora mocassim argentino. Quando me contaram, achei engraçado, pois notei que estava com o meu legítimo Guido nos pés. Pensei em fazer mais um iútube bobo sobre o sapato, mas me contive e me contentei com uma foto. No dia seguinte mandei a foto para ele. Sei lá, era uma lembrança. Um tipo de homenagem, entende? A pessoa gosta da coisa e você se lembra e a valoriza. Achei super legal.
Mas gente.
Pô, gente.
Não acreditei quando aconteceu. Esse conhecido, assim que recebeu a foto, disse que meu sapato não era da Guido. Acreditam? Que ele conhecia muito bem mocassim da Guido, e que aquele meu era falso. Os detalhes, ele falou. A diferença está nos detalhes.
Ai que raiva que me deu. Como era? “O seu é falso”? Ora, eu vou pra Argentina, eu conheço tudo, eu vou na loja, eu compro, pago mico de andar com cara de turista e sacolinha da Guido e meu sapato é falso? Ô raiva que me deu. Na mesma hora tirei o sapato do pé e enfiei no escaner. Falso o nariz dele, caramba.
Olhai o solão.

Nenhum comentário: