terça-feira, 8 de maio de 2007

aterrisagem


Há anos que eu chego em casa e encontro esse fim de guerra na porta da entrada. Uma sapataiada, uma meiarada, uma malaiada. Já me incomodei muito com a bagunça dos meus filhos. Já dei bronca. Já xinguei, esbravejei, expliquei. Não se deve, não se pode, não se faz. A bagunça continuava e eu cada vez mais chata. Sei que mãe tem que ensinar as coisas para os filhos, sei que dona de casa tem que zelar pela casa. Mas mãe e dona de casa tem também que ser feliz. Porque senão o marido não aguenta. Senão os filhos não aguentam. A empregada não aguenta. Os amigos não aguentam. Ninguém aguenta gente que não é feliz. E ser feliz tem um pouco a ver com desencanar. Então, um dia, um dia que eu até me lembro qual foi, eu desencanei desse negócio de ficar implicando com a mesma coisa todo santo dia. Quer deixar os sapatos bem na porta? Deixa. Quer jogar a meia no meio do hall? Joga. Os cadernos da escola no chão? Que fiquem. É errado? É. Mas não é o fim do mundo. A gente tem que saber o que é o fim do mundo e o que não é. Uns sapatos e umas meias realmente não são. As vezes eu chego em casa cansada e piso em cima de uns pares de tênis. Outras vezes eu cato e coloco no cantinho. Mas não implico mais. Até acho engraçado. Aquele monte de pé de sapato dormindo no meio do nada. Poderia dizer que é até poético. A pista de pouso do sossego. Do lar. Sim, minha casa é bagunçada. E eu hoje não estou nem ai.

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