alá ele!
Foi na sexta feira. Estava trabalhando em paz e sozinha quando a Rô, a filha da Maria, minha empregada, que ajuda ela aqui de vez em quando, entrou aqui no escritório com um olhão enorme.
- Aaa, Lúcia! Tem um bicho enorme no seu quintal!
- Bicho, Rô? Como assim? Um cachorro? Gato?
- Se fosse cachorro ou gato eu saberia, mas acontece que esse bicho eu não sei o que é. Minha mãe falou que é um rato, mas acho que aquilo não é rato não. É gordo, marrom e não tem rabo. E é enorme. Vem ver, vem ver – ela insistia.
Juro, não tive a menor vontade de olhar. Um bicho enorme, gordo, marrom e sem rabo na minha casa? Queria era sumir. Putz pânico. Ô vontade de morar em apartamento.
Começou a gritaria. Qualquer casa com três mulheres e um bicho enorme, gordo, marrom e sem rabo vira um pandemônio, não tem jeito.
- Fechem as portas da sala – eu dizia – fechem a porta da cozinha! Como vocês acham que ele entrou?
- Pulou o muro, é rato, Lúcia! – insistia a Maria – um ratão!
- É nada mãe, não tem rabo! - insistia a Rô.
- Fechem as janelas, então! Se pulou o muro, pulará as janelas.
Nos trancamos em casa e nos olhamos feito três idiotas. Não adiantava nada ficar trancada, o bicho enorme, gordo e marrom e sem rabo não ia desaparecer do meu quintal. O que fazer?
- Eu vou lá – falou a Maria, corajosa, mas sem muita cara de quem ia matar o bicho.
- Cuidado, ele pode te atacar – eu disse - Mas se não um é rato, o que é?
- É marrom, enorme, gordo e sem rabo – repetiu a Rô.
- Uma capivara? Um paca? Uma cotia? Um hamster? Um preá? Porco da Índia? – lá fui eu pra o Google olhar as figuras de cada um, imaginando de onde veio aquilo. A Rô, que foi quem mais tinha visto o bicho, veio dar seu parecer.
- Ou é filhote de capivara, ou hamster ou preá, Lúcia.
Pensei no que fazer. Poderia soltar a Bela, a minha cachorra e a quarta fêmea da casa naquele momento, pois ela é uma assassina de animais menores que ela, mas achei meio nojento promover uma caçada em casa. A Bela mata mesmo, nasceu para isso, mas promover uma carnificina logo de manhã me pareceu meio... asqueroso. Além disso, se fosse um rato, o rato poderia ter comido algum veneno e poderia infectar a coitadinha. Melhor ela ficar fora disso, pensei. A Maria se armou de uma vassoura e foi a luta, até, depois de muitos berros, conseguir entocar o bicho num armário de materiais de jardim.
- Cuidado - falou a Rô – ele pode te atacar, mãe!
Eu catei a máquina para documentar o evento e resolvi chamar o meu dedetizador, o seu Alcebíades. Ele vem sempre aqui dedetizar a casa e sempre coloca veneno de rato nos ralos externos. São Paulo tem muito rato de rua. Ele me avisou que coincidentemente estava perto e que viria naquele momento. Chegou em quinze minutos, munido de um equipamento de caçada. O seu Alcebíades é, sem dúvida alguma, um cara muito valente, pensei, aliviada, quando ele chegou. Estava na cara que ele ia, sem dúvida alguma, caçar o bicho grande, marrom, gordo e sem rabo sem gritar como estávamos fazendo até o momento. Se dependesse de nós, o bicho só ficaria surdo, mas vivo. Como já tinha se passado mais de uma hora desde o início do evento e eu precisava trabalhar, larguei as duas com ele e me tranquei no escritório, suando, encalorada, com tudo fechado. A gritaria das duas aumentava a cada instante. Está lá! Ali! Correu! Na planta! Foi pra frente! Pega! Agora! Fugiu! Eu vi! Corre! Ali! Lá, Alcebíades, lá!
Depois de um tempo, fui chamada.
- Lucia, o seu Alcebíades pegou!
- O que é?
- Ele disse que é preá.
Fui lá fora. Lá estava o pobre bichinho encurralado e amedrontado dentro da caixa. Gente do céu. Não tenho a menor idéia de como isso veio parar aqui. O seu Alcebíades, agora mais meu-herói que nunca, colocou numa caixinha e falou que não ia matar não. Ia levar e jogar num parque perto da casa dele. “Não pode matar um bicho desses, é crime ambiental”. Ficamos um tempão olhando para ele, os quatro. "Que fofinho", falou a Rô.
- Aaa, Lúcia! Tem um bicho enorme no seu quintal!
- Bicho, Rô? Como assim? Um cachorro? Gato?
- Se fosse cachorro ou gato eu saberia, mas acontece que esse bicho eu não sei o que é. Minha mãe falou que é um rato, mas acho que aquilo não é rato não. É gordo, marrom e não tem rabo. E é enorme. Vem ver, vem ver – ela insistia.
Juro, não tive a menor vontade de olhar. Um bicho enorme, gordo, marrom e sem rabo na minha casa? Queria era sumir. Putz pânico. Ô vontade de morar em apartamento.
Começou a gritaria. Qualquer casa com três mulheres e um bicho enorme, gordo, marrom e sem rabo vira um pandemônio, não tem jeito.
- Fechem as portas da sala – eu dizia – fechem a porta da cozinha! Como vocês acham que ele entrou?
- Pulou o muro, é rato, Lúcia! – insistia a Maria – um ratão!
- É nada mãe, não tem rabo! - insistia a Rô.
- Fechem as janelas, então! Se pulou o muro, pulará as janelas.
Nos trancamos em casa e nos olhamos feito três idiotas. Não adiantava nada ficar trancada, o bicho enorme, gordo e marrom e sem rabo não ia desaparecer do meu quintal. O que fazer?
- Eu vou lá – falou a Maria, corajosa, mas sem muita cara de quem ia matar o bicho.
- Cuidado, ele pode te atacar – eu disse - Mas se não um é rato, o que é?
- É marrom, enorme, gordo e sem rabo – repetiu a Rô.
- Uma capivara? Um paca? Uma cotia? Um hamster? Um preá? Porco da Índia? – lá fui eu pra o Google olhar as figuras de cada um, imaginando de onde veio aquilo. A Rô, que foi quem mais tinha visto o bicho, veio dar seu parecer.
- Ou é filhote de capivara, ou hamster ou preá, Lúcia.
Pensei no que fazer. Poderia soltar a Bela, a minha cachorra e a quarta fêmea da casa naquele momento, pois ela é uma assassina de animais menores que ela, mas achei meio nojento promover uma caçada em casa. A Bela mata mesmo, nasceu para isso, mas promover uma carnificina logo de manhã me pareceu meio... asqueroso. Além disso, se fosse um rato, o rato poderia ter comido algum veneno e poderia infectar a coitadinha. Melhor ela ficar fora disso, pensei. A Maria se armou de uma vassoura e foi a luta, até, depois de muitos berros, conseguir entocar o bicho num armário de materiais de jardim.
- Cuidado - falou a Rô – ele pode te atacar, mãe!
Eu catei a máquina para documentar o evento e resolvi chamar o meu dedetizador, o seu Alcebíades. Ele vem sempre aqui dedetizar a casa e sempre coloca veneno de rato nos ralos externos. São Paulo tem muito rato de rua. Ele me avisou que coincidentemente estava perto e que viria naquele momento. Chegou em quinze minutos, munido de um equipamento de caçada. O seu Alcebíades é, sem dúvida alguma, um cara muito valente, pensei, aliviada, quando ele chegou. Estava na cara que ele ia, sem dúvida alguma, caçar o bicho grande, marrom, gordo e sem rabo sem gritar como estávamos fazendo até o momento. Se dependesse de nós, o bicho só ficaria surdo, mas vivo. Como já tinha se passado mais de uma hora desde o início do evento e eu precisava trabalhar, larguei as duas com ele e me tranquei no escritório, suando, encalorada, com tudo fechado. A gritaria das duas aumentava a cada instante. Está lá! Ali! Correu! Na planta! Foi pra frente! Pega! Agora! Fugiu! Eu vi! Corre! Ali! Lá, Alcebíades, lá!
Depois de um tempo, fui chamada.
- Lucia, o seu Alcebíades pegou!
- O que é?
- Ele disse que é preá.
Fui lá fora. Lá estava o pobre bichinho encurralado e amedrontado dentro da caixa. Gente do céu. Não tenho a menor idéia de como isso veio parar aqui. O seu Alcebíades, agora mais meu-herói que nunca, colocou numa caixinha e falou que não ia matar não. Ia levar e jogar num parque perto da casa dele. “Não pode matar um bicho desses, é crime ambiental”. Ficamos um tempão olhando para ele, os quatro. "Que fofinho", falou a Rô.
Um preá na minha casa. Como pode?
Nenhum comentário:
Postar um comentário