quinta-feira, 22 de março de 2007

vírus velho


Na semana passada, meu computador começou a dar problemas. Ficou lento, como se estivesse com preguiça e demorava horas para abrir uma página. Na verdade, a provocação era pior – ele abria as páginas em ondas, bastava abrir o Gmail que tudo se emperrava, bastava tentar entrar no Youtube que tudo desligava, e, aaaaaa!: ele desligava quando eu entrava no meu blog. Naquele mesmo dia o anti-virus começou a apitar no meio da tela. Acho ótimo que existam anti-virus, mas me pergunto porque eles fazem tanto escândalo. Eu, que sou da geração que tem medo de computador (há quinze anos atrás as pessoas perdiam todos os trabalhos sem mais nem menos, não era bolinho não), fico super assustada com esses avisos escandalosos de anti-virus: parece que tudo vai se acabar, explodir, que o micro vai se auto detonar em tantos segundos. Putz pânico exagerado. Um senhor mais idoso poderia até ter um ataque do coração, eu acho. Liguei para o técnico, ele ficou de aparecer.
Um dos filhos apareceu quando ouviu minhas lamentações ao telefone.
- Qual vírus que você pegou, mãe?
Abrimos a janelinha e eu li o nome. Foi uma indignação geral.
- Hahaha! Mãe, não acredito! Você pegou isso? Que vírus mais manjado, só gente muito, mas muito trouxa que pega isso, hahahah.
- Como assim?
- Mãe, esse vírus existe há uns três anos, ninguém mais pega isso. É um vírus-velho, só você mesmo, que é velha pra pegar esse ridículo vírus-velho. Não conta pra ninguém que você vai ser motivo de gozação. Uma velha com antivirus velho pegando virus velho. Hahaha. Que foi que você abriu? O email do viagra ou aquele que você perdeu o CPF? Hahahaha.
- Eu juro que não abri nada, filho, nada!
O técnico passou, olhou, e o micro travando. É o vírus? Ele disse que não sabia. Ora, o virus está preso, acho meio impossível, concluiu. A coisa tava grave, esquisito aquilo para um computador novo, ele disse. Mexeu, mexeu e achou melhor levar embora. Fiquei desesperada, como trabalhar sem micro? O escritório ficou um breu, sem música, sem barulhinhos de MSN, de email, de skype. Pensei em trabalhar em frente a tv, desisti, fiquei rodando pela casa e falando no celular o dia todo. No dia seguinte o computador voltou sem o vírus-velho. Instalamos, eu comecei a trabalhar, o técnico foi embora. Não deu nem dez minutos e pluft. Travou. Saco, que raiva.
No dia seguinte o técnico voltou. Mexeu, mexeu, nada. Eu me defendia: juro que não abri email do viagra, juro. Resolveu levar embora de novo, mas desta vez ele me deixou um micro dele para eu poder me virar. Um computador coringa, era como se eu estivesse num saiber-café, sem nenhum arquivo, sem nenhum email, mas melhor que nada. No dia seguinte ele me liga.
- Lucia, você não acredita.
- Que foi?
- Tudo bem que você pegou um vírus-velho, mas o problema não era esse - o vírus velho poderia ficar lá anos e anos sem te incomodar. O problema veio da sua coleção de pedras coração.
- Como assim?
- Tinha uma pedra coração grudada atrás da CPU.
- Impossível – balancei a cabeça - pedra não gruda.
- Essa sua pedra gruda sim-senhora. Sei lá onde você arrumou, mas é um pedra que tem um putz imã atrás. Isso cria um campo magnético que trava tudo.
Verdade-verdadeira. Ganhei, há uns anos, do Edu do Itamambuca, uma pedra que é um suvenir do muro de Berlim. Ele procurou na loja um caco que tivesse um formato de coração, achou e me deu de presente. E, como todo suvenir que se preza, atrás dele dele um enorme imã. Essa pedra fica na mesa aqui ao lado, junto com as outras. Por algum motivo, caiu e... cataplonc, grudou na CPU. Ou seja, gente, pensa: um caco do muro de Berlim, que viveu anos sendo apenas muro, um dia caiu, foi picotado, virou suvenirzinhos, foi escolhido, comprado, veio na mala do Edu percorrendo continentes para vir... travar o meu computador. Demais, demais. Fala se o destino (das pessoas, da humanidade, dos cacos de muro) não é impressionante. Impressionante e chique, quem no mundo já teve um problema de computador que envolveu um pedaço do Muro de Berlim?
Com o computador funcionando, ontem sai pela casa com a pedra da mão, brandindo contra os meus filhos, exibidérrima. Ora, que vírus-velho o quê. É velho, mas não é vírus.
É muro. E de Berlim!

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