Ele chegou no aeroporto todo arrumado para a nossa viagem de trabalho. Já estava lá quando entrei na fila do check-in. Cumprimentei-o de longe e pedi que ele me esperasse. Depois de um tempo, peguei meu cartão de embarque e fomos juntos para a sala de espera tomar um café antes do vôo. Era muito cedo, eu morrendo de sono, mal enxergando o que estava na frente. Pedimos o café, sentamos numa mesinha.
Só nessa hora que olhei direito para meu companheiro de viagem, um engenheiro de instalações que ia verificar se a obra estava em condições de receber seus fios e equipamentos. Ele vestia uma camisa toda abotoada, calças com cinto (engenheiro sempre usa cinto), sapatos, mala com computador e... um crachá pendurado no pescoço.
- O que é isso? – perguntei, apontando o colar com a plaquetinha.
- Um crachá – ele respondeu, na maior naturalidade, até meio espantado com a minha pergunta. Como eu não sabia o que era um... crachá?
Estranhei. Para que ele precisava de um crachá se ia para o Rio de Janeiro de manhã e voltaria só a noite? E lá na obra nem eu e nem ele precisaríamos de crachás. Resolvi entender.
- Eu sei que isso é um crachá - eu disse - mas de onde é esse crachá?
O engenheiro me olhou como se eu fosse maluca. Segurou a plaquinha e me mostrou.
- Ora, é do prédio onde eu trabalho aqui em São Paulo. Para entrar precisa de crachá, se você esquece é uma trabalheira danada – explicou, sem completar mais nada.
Ah, não, que resposta mais estapafúrdia, por acaso aquele seria um crachá de um prédio onde ele não trabalha? Ele devia estar de brincadeira. Olhei de novo para ele. Era muito esquisito ver um homem de crachá numa situação sem crachás. Pra quê ir para o Rio com um crachá de São Paulo?
- Olha, eu entendi que isso é um crachá e que esse crachá é o crachá do prédio onde você trabalha. Mas... – hesitei, olhando para a cara dele e pensando que provavelmente aquele homem tinha outra lógica, muito diferente da minha e que era melhor ser cautelosa - ... mas porque ele está ai agora, esse crachá?
Ele olhou o crachá.
Só nessa hora que olhei direito para meu companheiro de viagem, um engenheiro de instalações que ia verificar se a obra estava em condições de receber seus fios e equipamentos. Ele vestia uma camisa toda abotoada, calças com cinto (engenheiro sempre usa cinto), sapatos, mala com computador e... um crachá pendurado no pescoço.
- O que é isso? – perguntei, apontando o colar com a plaquetinha.
- Um crachá – ele respondeu, na maior naturalidade, até meio espantado com a minha pergunta. Como eu não sabia o que era um... crachá?
Estranhei. Para que ele precisava de um crachá se ia para o Rio de Janeiro de manhã e voltaria só a noite? E lá na obra nem eu e nem ele precisaríamos de crachás. Resolvi entender.
- Eu sei que isso é um crachá - eu disse - mas de onde é esse crachá?
O engenheiro me olhou como se eu fosse maluca. Segurou a plaquinha e me mostrou.
- Ora, é do prédio onde eu trabalho aqui em São Paulo. Para entrar precisa de crachá, se você esquece é uma trabalheira danada – explicou, sem completar mais nada.
Ah, não, que resposta mais estapafúrdia, por acaso aquele seria um crachá de um prédio onde ele não trabalha? Ele devia estar de brincadeira. Olhei de novo para ele. Era muito esquisito ver um homem de crachá numa situação sem crachás. Pra quê ir para o Rio com um crachá de São Paulo?
- Olha, eu entendi que isso é um crachá e que esse crachá é o crachá do prédio onde você trabalha. Mas... – hesitei, olhando para a cara dele e pensando que provavelmente aquele homem tinha outra lógica, muito diferente da minha e que era melhor ser cautelosa - ... mas porque ele está ai agora, esse crachá?
Ele olhou o crachá.
Ele me olhou.
- Ué. Ele está aqui porque eu uso crachá.
Juro, gente. Ele respondeu só isso, simples assim. Olhei, pasma, para ele e vi que ele usava aquilo com esmero. O cordão que segurava a plaquinha de plástico passava debaixo da gola da camisa, como se fosse uma gravata, e a plaquinha ficava enfiadinha entre o segundo e o terceiro botão da camisa, como se estivesse numa toca. Muito engraçado aquilo. Então eu entendi. Aquele era um cara que usa crachá e ponto final. Um homem que usa crachá como usa meias. E nessa hora, de novo, o mundo se dividiu em duas partes: a dos homens que usam crachás e a dos homens que não usam crachás. Eu, uma mulher sem crachá, não poderia mesmo entender aquele homem. Sorri para ele, mas é esquisito demais quando nosso interlocutor tem outra conexão com a realidade. Tenho problemas com isso, não fico satisfeita. Resolvi tentar uma última vez. Ultimíssima.
- Mas escuta uma coisa. Estamos indo para o Rio de Janeiro a trabalho, vamos voltar só a noite e... – fui cuidadosa - Você acha que vai precisar disso hoje?
Ele pensou um pouco. Provavelmente aquilo que eu disse, sobre não precisar do crachá no Rio de Janeiro, não tinha sequer passado pela cabeça dele.
- Não. Pensando bem, não.
- E porque colocou?
Ele deu de ombros.
- Porque eu uso crachá, ué.
- Ué. Ele está aqui porque eu uso crachá.
Juro, gente. Ele respondeu só isso, simples assim. Olhei, pasma, para ele e vi que ele usava aquilo com esmero. O cordão que segurava a plaquinha de plástico passava debaixo da gola da camisa, como se fosse uma gravata, e a plaquinha ficava enfiadinha entre o segundo e o terceiro botão da camisa, como se estivesse numa toca. Muito engraçado aquilo. Então eu entendi. Aquele era um cara que usa crachá e ponto final. Um homem que usa crachá como usa meias. E nessa hora, de novo, o mundo se dividiu em duas partes: a dos homens que usam crachás e a dos homens que não usam crachás. Eu, uma mulher sem crachá, não poderia mesmo entender aquele homem. Sorri para ele, mas é esquisito demais quando nosso interlocutor tem outra conexão com a realidade. Tenho problemas com isso, não fico satisfeita. Resolvi tentar uma última vez. Ultimíssima.
- Mas escuta uma coisa. Estamos indo para o Rio de Janeiro a trabalho, vamos voltar só a noite e... – fui cuidadosa - Você acha que vai precisar disso hoje?
Ele pensou um pouco. Provavelmente aquilo que eu disse, sobre não precisar do crachá no Rio de Janeiro, não tinha sequer passado pela cabeça dele.
- Não. Pensando bem, não.
- E porque colocou?
Ele deu de ombros.
- Porque eu uso crachá, ué.
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