terça-feira, 16 de maio de 2006

não teve graça nenhuma



Embora eu seja exagerada com um monte de coisas, odeio exageros de pânico. O que aconteceu ontem foi uma coisa perigosa demais. O medo é uma coisa que vai aumentando, o clima de terror contagia e, embora adultos normais tenham noção do perigo, é fácil perder o controle. Fofoca de medo para mim é uma coisa detestável. É claro que temos que saber dos perigos que corremos, mas não devemos aumentar o perigo. Tenho a tendência, sempre, a minimizar o medo. Talvez seja um modo de se defender, talvez um característica de mãe que precisa ter o controle da situação. Mas as pessoas em geral não são assim. Sei lá, parece que gostam de aumentar. Podem falar que é perigoso ser como eu sou, mas eu acho o contrário - é perigoso exagerar.
No meio da tarde tive vontade de desligar a Internet e as televisão que falava sem parar as mesmas notícias. Vi um tal ônibus incendiado umas trinta vezes. Os amigos ligavam que iam para casa. Bomba no aeroporto, me disse um. Fecharam o Itaim, um festival de tiros na João Cachoeira, falou outro. Foi interditada a rua aqui do lado onde mora o secretário. Me liga uma mãe: nenhuma criança deve ir na Cultura Inglesa hoje, ligue para todas suas conhecidas. Não, não faço isso, pensei. Não espalho medo. Não sei bem porque, mas não faço isso.
E faço campanha: não espalhem também. Coisa ruim a gente digere e esquece.
Começaram até uns boatos esquisitos. Troca de tiros na Oscar Freire. Uma arquiteta de ligou dizendo que metralharam uma loja de decoração na Gabriel. Ameaça de bomba no Shopping Iguatemi. Será possível que o PPC tenha resolvido acabar com todos os lugares chiques de São Paulo? E a Daslu, esqueceram?
Porém a gente filtra, mas criança não. E assim, enquanto todos já estavam chegando em casa, tive que sair pelas ruas para resgatar o João que sobrou, em pânico total, fora da porta do clube fechado no começo da noite. “Mãe, tá escuro, estou sozinho e me falaram que se eu sair daqui vou levar um tiro. Estou num orelhão, me ajuda. Estão dizendo que fecharam a Faria Lima e a Marginal”. Absurdo, mas os seguranças do clube falaram isso para o menino antes de ir embora. “Eu vou ai agora, João. Fica onde você está que eu já chego”. Não teve graça nenhuma. Peguei todo esse transito ai, cheguei duas horas depois mas salvei o menino do medo. É disso que eu tenho medo.
Do medo.
Quando cheguei em casa, desligamos a TV e o computador e colocamos uma comédia bem boba no DVD. Chega. Sem comentários. Tem coisas que não tem graça nenhuma.

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