- Saiu ontem à noite, mãe?
- Sim, fui ao teatro com a turma da van.
- E ai? Peça boa?
- Maravilhosa, recomendo. Banco do Brasil, lá no centro. Uma peça chamada Molly Sweeney, com a Júlia Lemertz fazendo um papel de uma moça cega – e ela me deu um folheto que estava sobre a mesinha de centro – Essa peça você precisa ir ver. Ela trabalha muito bem.
- Legal.
Eu gosto das dicas da minha mãe. Mesmo sem ser uma super entendida de teatro, ela tem uma ótima noção de roteiros e interpretação.
- Depois fomos jantar numa pizzaria, chegamos tardérrimo. Fechamos a pizzaria, foi outra noitada daquelas.
- Que horas? Duas da manhã?
- Que duas que nada. Acho que três e meia, a madrugada entra e as senhoras bebem e bebem. Uma pede uma cevejinha, outra uma caipirinha, outra um campari, outra uma taça de vinho e a coisa não acaba – ela contou, rindo - Tem uma senhora, chiquérrima, que fica ali no choppinho, discretíssima, mas, quando vemos, elas já tomou mais de meia dúzia. Na hora que levanta, anda zanzando, tortinha. A organizadora da van sai correndo para ajudá-la.
- Ah, é assim é?
- É. E é uma pena eu não poder beber por causa dos meus remédios, filha, as senhoras se divertem tanto... O seu Loreto, o único homem da nossa turma, chega nos restaurantes e já pede uma garrafa de vinho para começar. Ele adora ser o dono do vinho e distribuir para as senhoras, nem sei quantas garrafas ele paga no final. Ele bebe e enche o copo de quem está do lado o tempo todo. Geralmente quem se senta ao lado dele sai completamente bêbado. Eu e uma amiga notamos que algumas senhoras disputam a tapa os lugares ao lado dele.
- Sempre achei esse seu Loreto um perigo – eu disse, caçoando.
- E cada dia mais as senhoras estão preferindo o jantar ao teatro, sabe? Antes saíamos para ir ao teatro, agora assistimos a peça rapidinho e elas perguntam: onde vamos? Parece que noite agora só começa ali, com as bebidinhas, isso que é engraçado.
- Ah. Está dizendo que elas querem é...
- Beber, filha. Isso mesmo. Cair na farra, tomar muitas cervejas, muito vinho, dar risada, falar pelos cotovelos.
- Perder o controle?
- Isso. E não querem ir embora não. A organizadora fica bocejando, pedindo, “vamos embora, gente, vamos embora” e elas nem nem se mexem da cadeira. “Já?”, elas falam, “vamos tomar mais uma, vamos ficar mais um pouco”, pedem, rindo, relaxadonas.
- Mãe, que engraçado. Não era assim a sua turma no ano passado, no ano retrasado. Era uma turma de velhinhas caretas, sem graça, quase mortas.
- Pois você veja só, minha filha.
- Estou vendo, minha mãe... – eu disse, rindo – Estou vendo que essa van trouxe vida à um monte de mulheres. Que bacana essa animação, essa alegria.
- Tsc. Pena que eu não bebo! – ela disse, desenxabida.
- Mãe!
- Mas filha, pensa bem! – falou minha mãe, defendendo as noitadas – Nós podemos cair na farra! Somos velhas, vida resolvida. A organizadora nos entrega em casa sãs e salvas e ninguém precisa dar satisfação pois todas moram sozinhas. Que problema pode ter?
Foi quando me lembrei do seu Loreto. E concordei.
- E também ninguém engravida, né?
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