quarta-feira, 26 de abril de 2006

crunch, éca, argh...



Todo mundo tem as suas implicâncias e nojeiras, uma vez falei disso aqui. Na época, recebi uma avalanche de comentários de gente contando as mais estranhas manifestações de incômodo pelas mais diversas coisas. No final, a minha implicância daquela época me pareceu ridícula, o que me aliviou muito.
Mas ando com uma implicância nova que está me perturbando. É uma coisa pequena, nunca falei dela, mas como está piorando a cada dia, vou revelá-la para, quem sabe, minimizar o problema.
É barulho de mastigação dos outros.
Isso, falei.
Ando com muito nojo de gente comendo da minha frente. Sabe aquele crunch, crunch, slurp, crónch? É, isso. Retorço a cara toda só de pensar.
Éca.
Não implico com o meu barulho, e sim com os dos outros. Acho horrendo o ruminar de quem mastiga, insuportável aquele barulho de dentes roendo, quebrando a comida, aquele som dos sucos salivares se misturando ao alimento, aquele ruído das mucosas bucais digerindo a massa alimentar. Arghhh. O pior é que, como nojo é nojo, a gente começa sempre a piorar a coisa ao longo da percepção do mesmo. Agora, além de implicar com o barulho, eu sempre olho o que a pessoa está comendo e vizualizo, na minha imaginação, o bolo alimentar dentro da boca, com cores, texturas, densidade. Tem sido cada vez mais terrífico.
Uma época um dos meus filhos não comia lasanha.
- Porque você não quer comer, filho?
- Eu sei que é gostoso... – ele respondeu – mas tenho aflição de comida que é igual antes de comer e depois de vomitar.
Até hoje eu, depois dessa observação, eu torço o nariz para as lasanhas que aparecem na minha frente. Implicância é implicância, fazer o que.
Porém ter nojo da mastigação alheia isso não me tira o apetite de modo algum, o que é estranho. Aliás, poderia me tirar ao menos um pouquinho, para eu perder os malditos dez-quilos adquiridos ao longo dos três anos sem fumar. E quando estou comendo eu nem ouço o barulho, sei lá qual o mecanismo do cérebro para fazer isso.
A saída para essa esquisitice – e que obviamente tem a ver com os dez-quilos – é comer junto com as pessoas, pois se eu como junto eu não ouço o barulho alheio. Assim, tenho me visto em festas e restaurantes enrolando com a comida no prato ou repetindo até a pessoa que está comigo acabar. Isso quando não fico falando sem parar ou fazendo barulhos para não ouvir o outro. Filhos com salgadinhos e comidas em volta de mim tem sido terrível. Saí de perto de um amigo que comia amendoins num almoço no sábado passado. É coisa de gente louca, eu sei.
E na tv então? Outro dia uma família tomava café da manhã numa novela tive que sair da sala, de nojo. Numa outra vez, vi num filme um cara comendo um sanduíche, fazendo aquele barulhão e desliguei o DVD.
Por causa dessa implicância minha vida está cada vez mais esquisita. O Zé sempre chega tarde, depois que eu e os meninos já acabamos de jantar, e me pede companhia para não ter que comer sozinho. Antes eu nem ligava, mas agora eu faço esforços descomunais para não falar nada e agüentar firme. Outro tive uma idéia.
- Lucia. Que é isso.
- Ah, isso? É meu iPod, Zé.
- Vai ficar sentada ai na minha frente ouvindo iPod?
- Vou. Mas estou te fazendo companhia, como você gosta. E está baixinho baixinho, eu te ouço.
- Ahhh, entendi. É por causa do nojo do barulho de eu comendo, aquela coisa que você contou outro dia?
- É.
- E assim você não tem nojo?
- Não. Posso ficar assim?
- Pode, claro...

Um comentário:

Paulo disse...

Olha, finalmente achei alguém com o mesmo "problema".
Não consigo mais nem ir no cinema para não ouvir o pessoal comendo pipoca.
Comer agora, só em lugares com muito barulho.

E realmente, o nojo só piora.