terça-feira, 21 de março de 2006

msm/pp


(corra franka, corra!)

- Ô Lu.
- Fala, Zé.
Era hora do jantar e ele me contava de uma entrega de uma concorrência para a prefeitura.
- Já reparou que eu faço tudo na última hora? – ele disse.
- A gente faz tudo de última hora, Zé. Eu também sou assim. Acho que foi por isso que a gente se casou. Todo mundo deve ter se casado antes, nós deixamos para a última hora, sobramos eu e você.
- Você não está entendendo, não é para achar graça nisso. Não é legal deixar as coisas para a última hora. Por exemplo. Eu tenho que entregar um trabalho daqui a duas semanas. Mas, por mais eu me esforce, eu sei que vou deixar tudo para o último dia. Para a última hora desse último dia.
Eu suspirei. Sei como é.
- Você não tem idéia de como eu te entendo, Zé.
- Eu quero fazer antes. Mas existe uma força maior que me leva para o lado oposto, para o lado do atraso. E quando eu vejo, catapimba. Último dia. Correria. Stress. “Ai, não vai dar tempo”. Aquele nervoso. Suadouro. Tsc. Caramba.
- Já reparou que a gente é assim também aqui em casa? Algum dia a gente conseguiu programar uma viagem? A gente liga para os hotéis sempre um dia antes. “Tem um quarto conjugado?”; “Para quando?”, pergunta a mocinha, “... errr... para amanhã a noite...”, a gente fala, com a maior cara de pau. Hahaha. Óbvio que nunca tem...
- É. E nas festas aqui é a mesma coisa. Os convidados estão quase chegando e a gente nem pôs a mesa. Nem tomou banho.
- Acho que é um modo de vida, Zé. Um estilo. A gente deve ser descendente daquele porquinho preguiçoso. Aquele, da casa de palha. Ou das cigarras.
- Mas eu não fico à toa tocando viola e dormindo. Eu trabalho para burro, isso que eu não entendo... Olha, não sei, só sei que isso não me faz bem. Me estressa. Esse excesso de adrenalina que percorre o corpo nesses últimos minutos é péssimo pra saúde. Eu queria entender porque é que eu busco essa adrenalina estressante. Será que é algum tipo de auto-destruição? Será que eu direciono as coisas para não entregar o trabalho a tempo justamente porque quero essa aventura contra o tempo? Talvez minha mente ache isso heróico, sei lá. Talvez eu...
- Não, Zé! Eu tenho uma teoria completamente diferente. Acho que na verdade tanto eu quanto você queremos apenas prolongar o prazer. Veja bem, participar de uma concorrência da prefeitura, entregar aquela papelada e cuidar da equipe é muito, mas muito chato. Já fazer as coisas que você gosta, como projetar e desenhar é muito legal! Então tua mente, inconscientemente, prolonga o prazer e empurra a chatice com a barriga. Entende? É o contrário do stress e da auto destruição. É o prolongamento do prazer em detrimento da irritante burocracia. É auto-preservação pura! E é assim que devemos viver a nossa vida. Prolongando o prazer. A cada dia mais e mais. Até que um dia conseguiremos abolir todas as chatices e... – e eu juro que eu estava acreditando piamente naquela minha teoria – ... e olha, é melhor viver onze horas e meia tranquilão, de bem com a vida e meia horinha estressado do que seis horas mais ou menos tranqüilo e seis horas mais ou menos estressado. Horrível gente assim, mééédia. Não acha?
Ele me olhou estranho e falou bem devagar.
- Não mesmo.
Bem, somos parecidos, mas nem tanto.
A vida é bem assim mesmo.
E outro dia a Vivian Makia do Volátil, que sempre comenta aqui, me disse o seguinte:
“Pelo jeito você faz parte do MSM - Movimento Sem Método. Os integrantes desse grupo se atrapalham com horários, vivem correndo e fazem mil coisas ao mesmo tempo, mas geralmente dão conta de tudo com doses de adrenalina por conta de deadlines apertados. Bem vida ao clube!”
Pois é, Vivian.
Mais uma vez o mundo se divide em duas partes. Depois dos com bidê e sem bidê, agora temos os MSM e os MCM. E dentre os Sem Método, onde óbviamente eu e o Zé nos incluímos, eu prefiro me incluir entre os MSM/pp.
Sem método mas acreditando piamente na teoria do prolongamento de prazer.
Hã?

Ô gente, bom dia.
E não esqueçam que hoje tem inauguração da exposição do Dudi. Nesse caso, encurtemos o dia que o prazer está.

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