segunda-feira, 20 de março de 2006

um zumbi em roupas típicas


(ah, nada como um homem sem tarja - obrigada à vivo que é a dona da propaganda e ao passarinho, meu amigo que veste esse lindo pijama!)


Quem é pai ou mãe sabe o que significa essa coisa de acordar cedo para levar filho na escola. É um longo e necessário período da vida, onde é preciso se desconcentrar totalmente de sua imagem para se concentrar na imagem de um filho vestido em tempo recorde, arrumado, alimentado e equipado para a atividade que ele precisa fazer. A gente sempre acha que uma hora eles vão resolver isso sozinhos, mas infelizmente descubro, depois de muitos anos, que isso não é bem verdade.
Meus filhos são grandinhos, mas ainda tenho que supervisioná-los. O problema não é a idade da criança ou adolescente. O problema é que, se existe um líder nas situações chatas, é com esse líder que as pessoas vão reclamar, folgar e fazer corpo mole. Assim, enquanto existir um pai e uma mãe que acorde ou leve para a escola, cursinho ou até para o trabalho, você pode ter cinco ou cinqüenta anos – que vai reclamar e pedir mais dez minutos de sono.
Não é fácil ser o líder da manhã. Aqui em casa eu fui líder absoluta e incondicional por uns dez anos. Acho que mães, como amamentam, têm o inconsciente da alimentação da prole. Um reloginho que te desperta, queria ou não. Porém, um dia, resolvi dormir. Não para sempre, mas dormir. Tive uma canseira absurda dessa coisa de acordar cedo, e, um dia, sem mais nem menos, enterrei a cabeça no travesseiro e declarei para o Zé:
- Zé. Mais de dez anos acordando cedo. Chega. É a sua vez.
Foi uma coisa fantástica. Como é bom dormir pela manhã. Ele passou cinco anos levando as crianças na escola e eu, rooonc... dormindo... Mas, como todo combinado e férias, acabou. E agora voltou a minha vez de acordar cedo.
Tudo isso para completar o post de anteontem, onde acordei atrasada para levar os filhos na prova, vesti qualquer roupa e sai. Era sobre isso que eu queria falar. Sobre vestir qualquer roupa. Na verdade, o que eu quero dizer é que os pais que acordam para levar os filhos não vestem roupas.
Vestem trajes típicos. É isso mesmo.
É que nessa hora insuportavelmente cedo onde somos obrigados a levantar da cama, na verdade não estamos acordados, gente. Esse momento é o limbo dos pais. É onde exercemos o entranho (e ainda não estudado) papel das mães-zumbi e pais-zumbi.
Na minha opinião, nós, pais, temos três estados de consciência. Consciência, inconsciência e estado de zumbi. Sabemos, desde que a criança nasce, como é difícil para um pai ou para uma mãe dormirem. Assim, acostumamo-nos a dormir a qualquer hora e em qualquer canto. E nos intervalos. E depois. E ja-já. E daqui a pouco. E só uma sonequinha. E um minutinho. Peraiqueridaqueeujavou.
Não sei. Há dezesseis anos que eu e o Zé sempre achamos que vamos dormir daqui a pouco. E é por isso que mães e pais são tão esculachados. Não é por mal. É sono.
Por isso a escolha da roupa para levar o filho na escola não tem nada a ver com o momento de levar: tem a ver somente com o dali a pouco, onde você vai despencar naquela cama deliciosa de novo.
O estado de zumbi é um gerúndio de sono. Portanto, entendam: uma mãe que leva o filho na escola não está ali. Ela está indo dormir. Quem está indo dormir não penteia o cabelo, não coloca brincos, não coloca salto alto e nem passa batom. Quer apenas tirar a roupa o mais rápido possível. Imagine se alguém leva um filho na escola de botas. Ou de calça jeans. Ou de camisa. Aliás, camisa é demais. Jamais me imagino desabotoando tudo aquilo antes de despencar de novo.
Um dia o Zé e eu acordamos de madrugada. Ele ia buscar o Chico num buffet.
- Vai assim, Zé?
- Como “assim”?
- Você está de short estragado, camiseta velha e havaiana.
- Que tem? Isso é roupa de buscar filho. Não estou de pijama.
- Eu sei, mas é quase.
- Tsc. Não vou nem entrar – ele falou bocejando - é pegar e voltar.
Dei de ombros. Mas óbvio que ele chegou na porta do buffet França e o menino não estava lá. Esperou e esperou. Nada. Só se entrasse e mandasse chamar. Me ligou.
- Alô. Lu. E agora? Tá todo mundo de smoking e eu assim, feito um mendigo.
- Quem mandou?
- Vou ficar aqui esperando. Estou tirando uma soneca aqui na porta, se o Chico ligar fala que estou do outro lado da rua.
Ficou uma hora dormindo ali mesmo, uma vez que não podia envergonhar o filho.
Coisa de pai zumbi.
E pais zumbis, para quem não sabe, não usam roupa nem pijama.
Usam roupas típicas.

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