Aconteceu um acidente aqui em casa anteontem. Nem falei sobre isso ontem pois estava me recuperando do trauma. É que, sem mais nem menos, no início da noite, a panela de pressão... bummm...!
Explodiu, gente.
Coisa mais perigosa uma panela de pressão.
Uma bomba dentro de casa e a gente não sabe.
O pior é que essa não foi a primeira vez que aconteceu comigo. Bem, comigo é modo de dizer, uma vez que sou uma mulher que não cozinha. É, é melhor ser sincera: eu sou uma mulher que não cozinha. Acho que essa é uma sina de filhas de mulheres que cozinham muito. As mulheres que cozinham muito sempre pulam uma geração, ou seja, minha mãe cozinha muito, eu não cozinho nada, minha filha Nani provavelmente vai cozinhar muito.
- Eu sou o vácuo alimentar da descendência familiar – eu disse um dia para o Zé, me defendendo das críticas à minha inabilidade - Sem esse vácuo a estabilidade da cadeia alimentar da humanidade poderá ser alterada e sabe-se lá o que vai acontecer... Sou um elo necessário.
Ele me olhou torto. Acho que não colou. Todo homem gosta de mulher que cozinha um pouco, fazer o quê.
Olha eu dispersando.
Mas voltemos às panelas e à pressão. Bem, a primeira explodiu com uma sopa, há doze anos. Eu estava grávida do João e morava num apartamento em Higienópolis. Era inverno, e, depois que os meninos dormiram, o Zé e a empregada resolveram fazer uma sopa. Eles colocaram os ingredientes na panela, o Zé veio ver TV comigo e a empregada foi tomar banho. De repente, bummm... Entramos correndo na cozinha e, no meio da fumaça, sentimos uma chuva quente. Era a sopa.
Ao invés de passarmos uma noite quentinha, passamos a noite limpando sopa do teto e explicando pelo interfone para os vizinhos que não pretendíamos demolir o edifício.
Desta vez foi com uma carne. A Maria colocou uma carne para assar, virou as costas e quando viu, bummm...!
Os meninos não estavam em casa, e eu cheguei no minuto seguinte. Óbvio que essa coisa de chegar no minuto seguinte foi uma mãozinha do meu querido São Benedito. E óbvio que a Maria também teve uma mãozinha do Santo dela, pois, mesmo estando do lado ela não se machucou: ficou surda por uns minutos e trêmula por mais de uma hora, mas intacta. Bem, se a culpa foi da Maria, da panela ou do destino, não sei. Mas só sei que toda minha casa, que estava tranqüila dentro da sua existência cotidiana, com seus barulhos e ronronares confortadores, foi para os ares depois da explosão.
Gente, a fumaça.
O cheiro.
O silêncio.
A carne espedaçada e úmida pingando sobre nossas cabeças.
O fogão em frangalhos, afundado quase dois palmos.
A coifa destruída.
Vidro por todo lado.
Carne por todo lado.
Eu não sei se quem nunca passou por isso sabe o que é uma explosão de uma panela de pressão. Acho que é o mesmo que explodir uma granada na cozinha. O barulho é o mesmo, o perigo idem, o estrago idem. Em alguns segundos, a cozinha foi aniquilada por ela mesma. E toda a estabilidade da casa foi alterada.
Na verdade, a sujeira a gente resolve, depois de muitos baldes de água e até esguichos no teto. A carcaça de lata foi bem aceita por um carroceiro naquele mesmo dia. O problema é ficar sem fogão. Ah, que vazio que dá olhar aquele buraco na cozinha. Fogão é chama, calor, comida, alimento. Embora possamos resolver a comida com lanches e comidas prontas, estamos todos meio perdidos aqui em casa. Só sentimos a falta de uma coisa quando percebemos a sua ausência. Nosso fogão morreu e estamos dentro da lacuna da sua não existência. A nossa casa está triste, eu acho. Uma família, um lar, a vida, são feitos de fogo, água, ar. A gente só sabe a importância do fogo quando não tem. Fica tudo frio sem fogo.
Mas ontem comprei um novo fogão em dez prestações. Um fogão lindão, precisa ver. O vendedor me disse que chega hoje mesmo.
É. A vida continua depois dos bummms...!
Desta vez foi com uma carne. A Maria colocou uma carne para assar, virou as costas e quando viu, bummm...!
Os meninos não estavam em casa, e eu cheguei no minuto seguinte. Óbvio que essa coisa de chegar no minuto seguinte foi uma mãozinha do meu querido São Benedito. E óbvio que a Maria também teve uma mãozinha do Santo dela, pois, mesmo estando do lado ela não se machucou: ficou surda por uns minutos e trêmula por mais de uma hora, mas intacta. Bem, se a culpa foi da Maria, da panela ou do destino, não sei. Mas só sei que toda minha casa, que estava tranqüila dentro da sua existência cotidiana, com seus barulhos e ronronares confortadores, foi para os ares depois da explosão.
Gente, a fumaça.
O cheiro.
O silêncio.
A carne espedaçada e úmida pingando sobre nossas cabeças.
O fogão em frangalhos, afundado quase dois palmos.
A coifa destruída.
Vidro por todo lado.
Carne por todo lado.
Eu não sei se quem nunca passou por isso sabe o que é uma explosão de uma panela de pressão. Acho que é o mesmo que explodir uma granada na cozinha. O barulho é o mesmo, o perigo idem, o estrago idem. Em alguns segundos, a cozinha foi aniquilada por ela mesma. E toda a estabilidade da casa foi alterada.
Na verdade, a sujeira a gente resolve, depois de muitos baldes de água e até esguichos no teto. A carcaça de lata foi bem aceita por um carroceiro naquele mesmo dia. O problema é ficar sem fogão. Ah, que vazio que dá olhar aquele buraco na cozinha. Fogão é chama, calor, comida, alimento. Embora possamos resolver a comida com lanches e comidas prontas, estamos todos meio perdidos aqui em casa. Só sentimos a falta de uma coisa quando percebemos a sua ausência. Nosso fogão morreu e estamos dentro da lacuna da sua não existência. A nossa casa está triste, eu acho. Uma família, um lar, a vida, são feitos de fogo, água, ar. A gente só sabe a importância do fogo quando não tem. Fica tudo frio sem fogo.
Mas ontem comprei um novo fogão em dez prestações. Um fogão lindão, precisa ver. O vendedor me disse que chega hoje mesmo.
É. A vida continua depois dos bummms...!
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