quarta-feira, 10 de agosto de 2005

os pêlos e o sabonete


Ô meu São Benedito, eu estou ficando cada dia vez cheia de nojo das coisas. Onde vai parar essa assepsia civilizatória do nosso mundo?
Pois bem, vou confessar aqui um grande segredo. Tenho o maior nojo de pêlos e cabelos. Desde menina que sou assim. Cabelos e pêlos grudados no corpo eu aceito numa boa, até gosto, mas cabelos e pêlos fora da pele, ou seja, no chão, na mesa ou no ralo me causam um asco terrível. Urgh. Acho que é um problema digno de terapia. Um dia, quando eu tiver muito dinheiro e não tiver mais onde gastar, vou procurar um analista (careca) e bem bonitão, vou me deitar no divã Lê Corbusiê e desabafar.
- Ah, doutor, tenho tanto nojo de cabelos e pêlos... de onde vem isso?
- Seus pais era peludos, lúcia? Vocês tinham um único banheiro em casa?
Porque esse assunto hoje? Ora, porque ontem o Márcio, um leitor e vizinho, fez uma piadinha nos comentários falando de pentelhos. Como pentelho é pêlo e pêlo é cabelo, lembrei desse meu nojo.
Urgh.
Ele disse o seguinte “... e tem aquela velha piada: festa de criança é que nem sabonete em casa de família; tem sempre um pentelho que ninguém sabe de quem é...”. Engraçado. Mas fiquei pensando sobre isso e até comentei que essa piada não tem mais sentido.
Pensa bem, hoje em dia é impossível achar um pentelho desconhecido no teu sabonete simplesmente porque não se divide mais sabonete. Se tem um pentelho lá, é seu. As pessoas têm seu próprio sabonete, que fica no seu próprio chuveiro, que fica no seu próprio banheiro que fica no seu próprio quarto. Coisa mais rara é dividir banheiro, como acontecia antigamente. Assim sendo, gente, não existe mais sabonete comum. Um sabonete é um acessório de uso íntimo, privado e particular. Acho até que é por isso que, cada vez mais, os lavabos têm agora sabonete líquido, daqueles que a gente aperta e sai uma gosminha.
Para ninguém colocar mais a mão no sabonete dos outros.
Bom, quem era da época que se dividia sabonete sabe muito bem. Acho que meu nojo veio daí mesmo. Se você está com mãos imundas e lava as mãos, você suja o sabonete. Se você é um homem muito peludo e toma banho, gruda um monte de pêlos no sabonete. É uma coisa natural e bem difícil de tirar, principalmente se você tiver unha curta. Urgh. Antigamente isso era aceitável, mas agora é nojento. Simplesmente repugnante encontrar um pêlo alheio num sabonete seu.
Urrrgh..
Os casados que dividem banheiro (como eu) estão, a cada dia, mais intolerantes. A pressão da mídia, o excesso de assepsia e a brancura dos banheiros imposta pelos arquitetos nos faz querer, desejar e almejar um banheiro particular. Até eu, que sou uma pessoa de idéias, de opinião forte e fixa, me vejo desejando um banheiro só meu. O sonho é inevitável, e, no meu caso, eu só ainda suporto a divisão do banheiro porque o Zé é pouco peludo. Se ele fosse peludão tenho certeza que nosso casamento de banheiro já teria acabado há tempos.
Eu não suportaria. Não o Zé, o sabonete com pêlos.
Olha, daqui a pouco a gente vai medir as pessoas pelos sabonetes. Eu não queria ser assim. Melhor antecipar essa terapia. Alguém conhece um analista? Depilado?

Um comentário:

Anônimo disse...

Minha sogra veio morar comigo,o banheiro é de uso de todos, mas o sabonete é individual,mesmo assim só de ver o sabonete dela me dá mau estar,todo cheio de pelos, não falo nada para não arrumar encrenca,mas é repugnante