Gente do céu, eu morro de medo de desaprender algumas coisas nesse mundo de hoje. Por exemplo:
Desaprender a escrever à mão, sem digitar, assim, com lápis ou caneta. Não parei total de escrever em cadernos, mas confesso que está cada vez mais difícil, sabe quando a mão cansa? É, e antes não cansava.
Desaprender a fazer bolo sem batedeira. Quando eu era menina, ia para a casa dos meus avós no interior nas férias. Minha avó fazia bolo de lanche, e como ela nunca teve batedeira, me ensinou a bater a massa e as claras na mão. Demora, dói o braço, a gente fica exausta e suando, e a cada vez que eu, de preguiça, pego a batedeira me dá esse medo de desaprender o bolo.
Desaprender ir a pé para os lugares perto, porque óbvio que carregar um carro de quase uma tonelada para o supermercado que é aqui do lado é muita burrice.
Desaprender a comer direito, sem nutricionista, pensando direito e sempre me alimentando de fruta, verdura, carne, arroz, feijão e massa.
Desaprender os caminhos para os bairros de São Paulo. Gente, anos atrás eu tinha tudo memorizado, e por causa dos GPSs e Wazes eu tou esquecendo. Eu falava para eu mesma: “Vila Mariana”, e pimba, lá eu ia pra Vila Mariana sem pestanejar nem pensar. Agora não consigo nem ir na Lapa, que é aqui do lado, sem ajuda da droga do telefoninho.
Desaprender a fazer ginástica sem aparelho e nem personal, como eu sempre fazia, cem abdominais, cem agachamentos, cem polichinelos.
Desaprender a dar festa em casa e ficar só fazendo aniversário em barzinho.
Desaprender a escrever no Blog e colocar todas as ideias aqui nesse facebook que faz desaparecer todos meus textos.
Desaprender a ler um livro ao invés de abrir o facebook, não achar nada e insistir em ficar abrindo de novo e de novo, como a gente faz com a geladeira vazia quando chega em casa e tá com fome.
Desaprender a tirar férias e ficar bundando ou brincando em casa, sem precisar necessariamente de viajar e ter um monte de programas mega cansativos.
Desaprender a espremer laranja e limão ao invés de abrir suco Natural One laranja/limão "de verdade" (o caralho).
Desaprender a fazer um omelete ou um macarrão na manteiga ao invés de comer um pacote de Rufles.
Desaprender a ficar pacientemente numa fila de banco lotado esperando a sua senha apitar depois de todos os idosos passarem na sua frente, quando seu bankline pifa.
De um certo modo, é tudo culpa de uma preguiça que o mundo moderno ensinou a gente a sentir. Com tanta tecnologia, com tanta máquina para fazer pela gente, a gente acaba adotando o ócio e fica sem força e sem disposição para enfrentar as coisas mais simples. A gente tá desaprendendo o básico. Assim, no gerúndio mesmo. E rumando inconscientemente para um tipo de burrice.
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