sábado, 13 de dezembro de 2014

o fundo do poço


Não gosto de escrever coisas tristes. Mas tomei coragem pra contar uma coisa.
É que começou minha tristeza de fim de ano. Basta chegar dezembro que ela aparece, e eu me sinto mal, triste e a maior coitada do universo. Desabafo pra ver se tem alguém que sente o mesmo. Acontece assim, vou lembrando de todas as desgraças da vida, uma a uma (ou as coisas que quero que sejam desgraças, hahaha).
Primeiro eu lembro que sou órfã. Era pequenininha quando meu pai morreu, daí morro de pena de mim. Depois lembro que minha mãe também morreu, e meu dá mais desamparo ainda. Sem mãe, sem pai. Acima de mim, ninguém. Depois lembro que não tenho marido ou namorado. Depois, que tou sem trabalho. Nesse momento, minha cabeça martela: Lúcia, você é uma ór-fã, en-ca-lha-da e de-sem-pre-ga-da. Mas não é suficiente, é preciso piorar mais pra sofrer mais. Meus filhos tão grandes e não precisam mais de mim. Snif. Depois eu penso em dinheiro e no futuro – a gente sempre pensa em dinheiro e no futuro nesses momentos – e me dá o maior medo de ficar uma velha sem grana. E a velhice, será que alguém vai cuidar de mim? A coisa vai se agravando, eu lembro que meu o carro que bateu e que tive que pagar a maior grana, que a televisão que quebrou e que não tenho 13* salário e tenho que pagar o 13* salário da Maria. Dai surge a questão fatídica: será que alguém vai passar o natal comigo? Meu Deus, socorro. Vou lá pra o fundo do poço. Pobre de mim. Ai que depressão.
Bom, em seguida eu sei o que acontece. O processo vai se revertendo. Lembro que tenho 3 filhos. Lindos. Bacanérrimos. Tou reclamando de que. Tenho onde morar. Casa própria. Ótimo. Tou resmungando porquê? Tem a Maria que faz uma comida sensacional. Vou me animando. Tem a minha irmã, que é ótima, amiga, companheira. Estou com saúde. Estou fazendo ginástica. As contas estão pagas. O natal é só uma noite, qualquer coisa fico em casa vendo TV e não vou morrer por isso. Nesse momento, eu me acho uma idiota. E já me alegro de novo.
Eu acho que todo mundo tem um certo prazer em sofrimentos. Quando eles vêm, eu percebo que faço de tudo pra eles serem sempre maior do que são. É que, é sério, é gostoso as vezes reclamar e se fazer de coitada, nem que seja pra você mesmo. Ainda bem que passa. Ainda bem que dezembro é só 1/12 do ano.
Hahaha.

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