quinta-feira, 13 de novembro de 2014

minha nova ginástica



Me matriculei na hidroginástica. Demorei pra tomar coragem, pois minha mãe fazia, adorava, e depois que ela morreu eu olhava o maiozinho dela e chorava, olhava a touquinha dela, chorava. Mas como já faz um ano que ela se foi, como tou com problemas no joelho e o médico recomendou, respirei fundo e resolvi entrar n’água. 
Achei que era baba, afinal, dizem que hidro é coisa de terceira idade, de velhinho, e que eu, que me exercito todo dia, ia tirar de letra. 
Ahã. 
Primeiro dia. A mocinha professora em pé e aquele monte de velhinha, velhinho, marmanjo e marmanja (eu) ali, de touquinha e de molho na água. O problema é que a professorinha mostra os exercícios fora da água, mas quando você vai imitá-la dentro da água, é praticamente impossível fazer a coisa na mesma velocidade. Por mais que você tente, fica uma coisa completamente desconjuntada, feito um boneco de posto, astronauta na lua, dançarino sem ritmo e com aquela água espirrando pra todo lado. Simplesmente não dava pra seguir o ritmo da música tunc-tunc-tunc que tocava. Resolvi desencanar, ou dançava ou fazia ginástica. 
Dai notei a coisa da coordenação. Quando você faz ginástica normal e tem que alternar perna e braço num exercício, você presta bastante atenção na perna e no braço e dá tudo certo. Mas caramba, dentro da água lá dá pra ver as suas pernas? Ainda mais com aquele monte de onda, com todo mundo chacoalhando? Já nãos sabia se a perna era minha, do coroa do meu lado ou da japonesa do outro. Levei pitos da professora em todos exercícios, “não, não, não, lúcia!”. Pior que ela fala num microfone, a e sala toda ouve como você é descoordenada e má aluna. 
- Gente, é meu primeiro dia... – me defendi, envergonhada, pra toda terceira idade.
Segundo dia. A mocinha avisou que a aula era aeróbica. Achei a coisa mais hilária fazer ginástica de ar na água, comentei com todo mundo, mas só eu achei graça da minha piada. Bem, foi mais ridículo ainda. Depois de uns exercícios básicos, ela mandou a gente começar a correr no lugar. De frente de lado de costas, fazendo exercícios e dando pulos, cada vez de um modo diferente. E em cada um deles, tinha que correr a piscina toda, de um lado pra outro. Sabe aqueles sonhos /pesadelos onde você precisa fugir de um monstro mas não sai do lugar? É sonho hidroginástico. Por mais que você tente correr, a parte de lá da piscina não chega nunca. E o exercício final dessa aula foi o mais cômico. Tínhamos que correr no ar, ou melhor, na água mas sem os pés no chão, e flutuar, ou melhor, boiar em pé rodando as mãos. Parecíamos um monte de periquitos desesperados. Tentei fingir e correr no chão, mas a mocinha viu tudo e me dedou. Se a água fosse colorida dava pra enganar, mas com água transparente não dá. 
Olha. É uma ginástica pra lá de caricata, e um tipo de esporte, que (já pesquisei), sequer tem competição. Ainda não fiz nenhuma amizade, por mais que tentasse, mas sei que é questão de tempo pois costumo ser tagarela. E estou quebrada da cabeça aos pés. Não sei como minha mãe aguentava. E falando nela, lembrei que ela, volta e meia, errava e me dizia:
- Amanhã não posso sair com você porque tenho ginástica hidráulica, filha.
Hahaha. Era engraçada a mamãe.

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