sexta-feira, 6 de novembro de 2009

o dado eletrônico do primo francisco



Fui outro dia na casa do meu primo e ele me mostrou um estranho objeto.
- Caramba. Que é isso, Francisco?
- É um dado eletrônico. Comprei para testar para usar no jogo que inventei.
O Francisco está desenvolvendo um "jogo", um jogo desses normais, de jogar na mesa, como o War, Leilão de Arte, Banco Imobiliário. Um jogo legal, educativo, bacana, ele já tem todo o projeto montado, mas ainda está em fase de testes.
- Precisa de dado eletrônico, seu jogo? Não pode ser um dado comum? - perguntei - Não é a mesma coisa?
- Não sei - ele disse - comprei esse dado pra testar.
Não aguentei e apertei o botão do meio. Tutututututututututú, fez o dado, que parou num número. Era legal fazer aquilo. Fiquei naquele tututututu um tempão. Foi quando tive a idéia de usar o dado eletrônico para... tirar a sorte. O Francisco se animou com a idéia.
- Que legal! Outro jogo! As pessoas adoram tirar a sorte. Poderemos ter respostas para muitas dúvidas cruciais da vida. Com esse dado-oráculo-eletrônico - ele falou, animado - poderemos definir o destino de muita gente.
- Mas Francisco, pensando bem... para o dado eletrônico tirar a sorte, cada número tem que significar alguma coisa. Olha, eu tirei 3. O que quer dizer? Nada. Dãr prá nós dois, primo.
- Hummm. Vamos fazer uma lista de resultados, então - ele sugeriu - um dos números será o "sim" e outro será o "não". Vamos escolher.
- E os outros quatro números? - perguntei.
- A gente escolhe respostas aleatórias só pra encher linguiça. Importa só na verdade o "sim" e o "não" - ele resolveu.
Hahaha. Gente, como eu gosto de uma bobeira. Colocamos a mão na massa, e a lista ficou assim:
1) vá sozinho
2) será a coisa mais frustrada da vida
3) faça uma salmonela
4) não
5) sim
6) vai dar farofa
Jogamos diversas vezes, fazendo perguntas essenciais e não essenciais para nosso destino. Resolvemos que não existiriam perguntas que não pudessem ser feitas para o dado eletrônico, que, ao contrário de outras sortes, seria totalmente liberado para qualquer pergunta, idiota ou não idiota. "Um dia vou ter um iate?", "tem chocolate no armário?", "vou publicar um livro?", "o fulano vai encontrar a sicrana amanhã?". Tudo poderia. Fiquei com a lista, ele com o dado. Desde então eu e o Francisco temos nos torpedeado muito, a toda hora. Quando tenho qualquer dúvida, mando uma mensagem pedindo para ele rodar o dado e me mandar o número. Já ele roda para as perguntas dele e me torpedeia, perguntando o resultado. Sensacional. Contamos para um monte de gente, estamos ficando famosos como adivinhos: "franka e o primo, os profetas do dado-oráculo-eletrônico". O seguinte: quem precisar de alguma resposta, pode chamar. Em dois torpedos eu e ele resolvemos.
Tutututututututú.

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