quinta-feira, 8 de maio de 2008

escova assassina




A minha amiga Patrícia tinha uma reunião de manhã cedinho. Uma reunião daquelas importantes, onde ela poderia pegar um putis trabalho legal. Foi dormir cedo, acordou cedo, banhão, roupa escolhida, ela resolve arrumar o cabelo e fazer uma maquiagenzinha. Imagem boa nessas horas conta muito.
A Patrícia diz que tem cabelo crespo. Ela sempre fala assim: sou uma pessoa crespa. Não acho o cabelo dela tããão crespo assim, mas cada um se vê dum jeito e não vou discutir. Segundo ela mesma, chapinha não funciona. A única solução é fazer escova, ela tinha comprado uma escova bárbara, daquelas que rodam sozinhas e que resolvem o problema do cabelo crespo rapidinho.
Depois do banho, parou na frente do espelho e foi à luta. Ligou a escova na tomada e fúúú, zuiiim, fúúú, zuiiim, escovando, escovando, escovando e arrumando o cabelo aos poucos. Quando estava na parte da frente, em cima da testa (para fazer escova ou chapinha nos cabelos é preciso separar o cabelo em partes, é um processo bastante complicado, parecido com uma cirurgia), aconteceu uma coisa péssima. Sabe-se lá o que ela aprontou com a posição da escova que os cabelos, ao invés de se alisarem, embaralharam na escova, embolando por todos os lados. Todos os lados mesmo. E a escova elétrica ficou presa na cabeça dela. Se ela ligasse de novo era pior. Ela tinha que tirar a escova dali e começar de novo.
Tirar?
O nó era imenso. Ela tentou, tentou e tentou desenganchar aquilo, mas descobriu que não dava meeesmo. Ó. Eu sei como é escova normal que engancha porque já enganchei, imagine uma escova elétrica, com aquela potência. Depois de muitos minutos tentando mexer a escova de lugar (sem sucesso algum), ela começou a se desesperar. A escova estava rente ao couro cabeludo, era preciso tirar fio por fio.
Fios crespos.
Começou a suar frio. A cada tentativa o troço enganchava mais e mais. Olhou no relógio. Hora de estar pronta, de sair de casa, putis, a reunião. Como ia fazer? Teve a súbita idéia de cortar o cabelo, mas teria que ficar careca ali na frente. Careca! Não. Não dava tempo nem de pedir ajuda para uma cabelereira. E tinha a reunião. Ela se olhava no espelho, desesperada.
Eu, que sou mulher, que faço escova e chapinha (não sou crespa, posso usar chapinha também), sei o que são certos desesperos femininos nessas horas. Um dia inventei de me maquiar na última hora (eu ainda não sei fazer isso), fiz uma burrada horrível nos olhos, fui tirar e aquela tinta preta se espalhou pelo meu rosto todo. No desespero lavei com sabão, shampoo, creme, fiquei toda inchada (e cinza) e tive que sair assim. A Patrícia parou e pensou bem. Ela é bem ponderada. Ou a reunião ou aquele problema. Era uma questão de pri-o-ri-da-de. A reunião, claro. Ela tinha que ser profissional, seja lá o que isso significasse. Pegou o telefone e ligou para o cara da reunião.
"Olá, bom dia. Aqui é a Patrícia. Temos uma reunião daqui a pouco e estou indo para ai. Não vou atrasar nada, mas estou com um problema e espero que você entenda". Ela respirou fundo e continuou, falando super sério, "é que hoje pela manhã eu fui fazer uma escova no cabelo e a escova enganchou no alto da minha cabeça. Não dá tempo de tirar, portanto aviso eu vou à reunião com a escova grudada em mim, tudo bem?".
Se arrumou toda, arrumou o resto dos cabelos, tirou a escova da tomada e foi daquele modo, com a escova grudada, como se fosse um enfeite. Dirigiu até lá, se identificou na portaria do prédio, pegou o elevador, esperou na sala de espera e fez a reunião... com a escova enganchada. Ninguém riu, pelo menos na frente dela (imagine no final da reunião). Conseguiu o trabalho, fez o caminho de volta e passou o resto da manhã tirando fio por fio, salvando seus cabelos (crespos) daquela máquina assassina. Hahaha.
Acho que é por isso que a Patrícia disse que quando morrer quer virar "salão de beleza". "Salão de beleza Patrícia". Eu já falei dela nesse post anterior. Claro. Depois dessa.
Ah, e ela é atriz. Super atriz. Bem que podia encenar isso, né?

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