Meu primo Francisco mudou de apartamento. Fui na casa dele visitar e dar uns palpites, embora eu sempre ache que dou péssimos palpites. Uma das coisas era para que eu opinasse onde ele deveria colocar os quadros. Foi retirando todos que tinha das caixas e armários, e íamos escolhendo os lugares. Ele não parava de trazer quadros, e, no meio da confusão (depois de um tempo já não era possível sentar no sofá, nem nas cadeiras e nem circular pela casa), ele se lembra de uma coisa.
- Ô prima.
- Que é.
- Tem uns quadros que o antigo dono deixou ai. Umas fotos. Quer ver?
Fomos até o quartinho de despejo da área de serviços, ele se meteu lá dentro e passou a tirar de lá umas coisas. Eram uma fotos-posters, daqueles antigos, da década de setenta, de três mocinhas. As três sorrindo, lindas.
- Olha para isso - ele disse - acho que elas moraram aqui. Que tal?
- Francisco - eu hesitei - Francisco, você não está pensando nisso, né?
- Nisso o que?
- Nisso de... de colocar essas fotos em algum lugar.
- Porque não? São lindas as moças.
- Mas Francisco, você nem sabe quem são! Vai colocar essas moças na sala?
- E dai que eu não sei? Um dia descobrimos. E aliás, na sala que nem cabe. Pensei em colocar aqui, na área de serviços mesmo.
- Na área de serviços?
- Não pode quadro na área de serviço, prima? Porque?
- Sei lá, Francisco. Acho que pode.
- Até esconde esse pedaço feio, que está sem azulejo. Olha - e ele pendurou as fotos - Que acha?
Eu olhei de um lado, de outro. Tirei uma foto e resolvi.
- Acho que ficou ótimo. Ótimo mesmo, pensando bem. Deixa ai.
Quando sai, as meninas ainda estavam lá. Na área de serviços dele.
É. Eu disse que não sei se dou bons palpites.
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