Ufa. Acabou uma parte. Comi pra burro, consegui diminuir os presentes. Agora só falta o final do ano. Estou na dúvida se vou prometer ou desejar alguma coisa. Na minha família nunca houve essa coisa de prometer ou desejar. Aliás, nunca tivemos grandes tradições de festas de fim de ano. Passar esse momento fora de casa, em festas, restaurantes ou hotéis nem se fala, sempre aprendi que era esquisito. Festinhas em casa, tivemos algumas. Lembro de uma, eu bem pequena, no apartamento da Haddock Lobo. O cheiro da estranha comida, a casa arrumada, uma empregada a mais arrumando as taças na mesa. Minha mãe surgindo com cabelo estufado de cabelereiro, saia havaiana e barriga de fora, meu pai de camisa florida dizendo que ela estava linda, ela reclamando que estava gorda. Eu e minha irmã de camisola, prontas para dormir, sete, oito anos de idade. Numa outra comemoração, anos depois, me pediram para acertar o relógio de pêndulo. Subi numa cadeira, abri o relógio, mexi os ponteiros e o tal pêndulo caiu direto no meu dedão do pé, a ponta perigosa furando meu dedo e me fixando na cadeira, a noite de reveillon no pronto socorro, o pé enfaixado. Na juventude, já sem meu pai, só pequenas comemorações em casa, e, depois de casada, sempre eu, o Zé e os filhos pequenos vendo fogos na janela. Sempre passei ao largo dessas comemorações, do uso de roupas brancas, dos abraços excitados na hora da virada, de música alta ou dança. Viajar pra praia? Como assim, pra quê? Os meus reveillons sempre foram meio solitários, eu acho. Acho que não vou prometer nem desejar nada esse ano. As coisas estão boas como estão. E eu, bagunçada como sou, provavelmente vou esquecer. Por exemplo, sei lá o que prometi ou desejei ano passado.
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