quinta-feira, 29 de novembro de 2007

caminho


Sete horas da noite, do Alto de Pinheiros até Vila Nova Conceição, com um pitistopi rápido para deixar meu sobrinho no Butantã. A marginal paradona.
- Mãe, posso tirar do rádio e ouvir um disco meu?
- Pode, João. De quem é?
- Tupac. O 2pac.
- Sei. Aquele que morreu.
Trânsito parado. O rapper cantando.
- Mãe, sabia que dizem que o Tupac não morreu não?
- Como assim?
- Olha essa música, bom, não é música, é uma fala dele. Ele fala coisas esquisitas. E foi um pouco antes de morrer.
- Ou de 'não morrer'.
- Parecia que ele sabia que ia morrer. Ou que ia fingir que ia morrer. Dizem que ele preparou tudo pra morte dele. E deu até dicas.
Impressionante o trânsito de São Paulo e a paciência que temos com ele.
- Entendeu essa letra, mãe? Ouviu?
- Não.
- Ele canta pra mãe dele. É demais. Você tem que aprender inglês, mãe. Nossa. Já pensou se ele tá vivo?
Não havia outro caminho a não ser a marginal.
- Dizem que cremaram ele direto, rapidinho. Sem autópsia. Mas tiraram fotos antes, e contam que as tatuagens não eram as certas, não eram as que ele tinha. Estranho. Mas como cremaram o cara, agora não dá pra saber.
- Sei.
Muito caminhão, caminhão atrapalha muito.
- Ele era aficcionado pelo número sete. Diziam que ele ia aparecer de novo do dia sete de sete de dois mil e sete. Eu fiquei esperando o dia todo. Ali, procurando na internet.
- E nada dele.
- Nada. Tudo tinha sete nas coisas dele. Sete, sete, sete.
- Igual ao Elvis. Dizem que o Elvis não morreu também, filho.
- Sério? Ele foi cremado também?
- Sei lá, João.
Pára, anda, pára, anda, pára, anda.
- Olha, filho. Estão subindo ali naquele prédio uma placa enorme de concreto pertinho do vidro.
- Uau. Posso tirar uma foto com tua máquina, mãe?
- Pode.
- Vou tirar uma artística. Sou bom nisso.
Acabou o disco um, ele colocou o disco dois. Chegamos no túnel um da Juscelino.
- Estamos chegando?
- Médio, filho. Tá perto.
- Essa música é demais, mãe, vou aumentar pra você. Essa um é rap-de-mãe. Ouve.
- Ele canta em cima de uma música antiga, né?
- Você conhece? É da sua época?
- É.
Chegamos no médico. Uma hora e vinte no carro, dois discos do Tupac. Impressionante essa nossa São Paulo.

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