terça-feira, 26 de setembro de 2006

a desobstrução

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É uma propaganda de televisão. Quando ela aparece, sempre no horário nobre da tv, e, inacreditavelmente antes do jantar, as pessoas aqui de casa começam a berrar de... nojo.
- Arghhh, lá vem mulher-diarréia! – exclama um dos meninos, rindo.
- Urgh, não vou ver, vou sair da sala – eu sempre falo, pulando do sofá.
- De novo? Que inferno! – fala o Zé – Todo santo dia essa mulher tem que desobstruir esse intestino bem na hora do nosso jantar?
- Ô mulher porca, lá é hora de falar disso? – fala meu outro filho.
- Éca, nunca vou comprar essa porcaria – diz minha filha, saindo da sala.
É uma propaganda desses iogurtes que fazem o intestino funcionar. Hoje em dia está na maior moda usar esses produtos. A propaganda fala que eles, além de serem saudáveis, facilitam o funcionamento do sistema digestivo e que isso faz as pessoas ficarem mais 'felizes'. Hummm, sei não. Acho que consumir frutas e fibras faria o mesmo efeito, mas propaganda é propaganda e as pessoa se convencem. E, bem, muita gente que deve se beneficiar muito desse tal produto, que acredito – sério – deve realmente fazer bem num caso de necessidade. Mas o que incomoda todo mundo aqui em casa é a idéia da propaganda. A idéia é absurda, gente. Quem inventou aquilo?
Bem, não deve ser fácil fazer uma propaganda de um treco que você come especificamente para fazer o, digamos, número dois. Sim, convenhamos, isso é bastante constrangedor, obviamente. Você não pode mostrar uma mocinha comendo e correndo para o banheiro, isso seria meio feio. Nem pode falar escancaradamente, 'coma esse iogurtinho e vá ...'. É preciso ser 'sutil'. O ideal, acho que eles pensaram, será fazer um tipo de comparação. E é essa comparação que dá acessos de riso e nojo na minha família, pois é muito infantil e, digamos, escancarada. Aliás, é tosca até não poder mais, como diz meu filho mais velho.
É o seguinte. Na primeira cena vemos uma mocinha linda numa varandinha de um prédio numa manhã linda de sol com um potinho do tal iogurte na mão. Até ai você não sabe de nada. Daí a mocinha dá um sorriso sem graça, faz uma carinha de prisão de ventre e olha para a rua lá em baixo. Aparece então uma cena com uma avenida enorme e com o maior congestionamento de carros. Óbvio que os carros estão ali representando as "obstruções". Éca, que nojo. Close na mocinha de novo, ela come uma colherinha do iogurte. Cena na avenida intestina, o trânsito anda um pouco. Tá funcionando. Close na fulana, outra colherada. Cena na avenida, mais um movimento. Mais outra colherada, mais carros fezes andando pelas vias intestinais. Urgh, é nojento aquilo e a coisa continua, potinho, carro, potinho, carro, até que a mocinha come a última colherada e, arghhh, lá passa o último carro-fezes e a rua fica limpinha, desobstruída.
Aí a mocinha sorri, aliviada.
Aliviada?
Argh.
Gente, vocês não acham isso muito nojento? Não compro nem morta.

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