Passei o dia hoje na festa junina na escola dos meus filhos. Todo ano eles fazem uma enorme festa onde todo o dinheiro arrecadado vai para uma instituição de caridade. Todos os brindes e produtos são doados e quem trabalha na festa são os pais dos alunos – tanto nas barraquinhas quanto na organização.
Vou nessa festa há onze anos. Durante oito anos tivemos, eu e o Zé, uma barraquinha de sorvete nossa, que organizávamos, montávamos e vendíamos. A nossa barraca dava um bom lucro para a festa, apesar do trabalho que nos dava. Em alguns anos choveu muito e em outros estava o maior frio do universo, e vender sorvete, no frio e na chuva e ao livre era terrível. O pior era que, nem chuva, no frio e ao ar livre as pessoas deixavam de tomar sorvete.
Um dia, desistimos. Eu e o Zé achamos que a nossa cota de ajuda estava encerrada e que, depois de oito anos de dedicação total, deveríamos descansar e, afinal, a aproveitar a festa junina.
- Imagine, Lu, poderemos comer! Nunca comemos nada nessas festas juninas – ele me disse, animado.
- Uau. Poderemos passear na festa – falei – nunca tivemos tempo de passear!
- Poderemos sentar nas mesinhas e tomar quentão – animou-se o Zé – Nós nunca tomamos um quentão numa festa junina! Vai ser genial!
Bom, chegou o primeiro ano sem barraquinha e sem trabalho. Acordamos tarde, descansados, dispostos a aproveitar. Chegamos na festa na hora do almoço – “horário de gente grande” – disse o Zé, e começamos a rodar. Olha. Foi super estranho. Depois de uns quarenta minutos, já estávamos na maior sem-graceza. Já tínhamos comido, passeado, jogado uma cartela de bingo e tomado o tal quentão na mesinha.
- E agora? Fazemos o que?
- Sei lá, Zé.
A questão é que não tinha graça nenhuma não trabalhar. Era estranho não fazer nada. Não sei, parecíamos muito a tôa, muito desocupados. Tivemos até uma certa vergonha de estarmos tão descansados no meio de amigos tão cansados. Foi uma das festas mais esquisitas que eu já fui e nunca me senti tão ridiculamente descansada. E quando, no ano passado, uma amiga me convidou para ajudá-la numa barraquinha, topei na hora.
- Olha lúcia, mas é para vender sanduíche de pernil. É preciso trabalhar pra burro, cansa demais, pois é das barracas mais cheias da festa. Quer assim mesmo?
Óbvio, respondi. Lá fui eu. Passei a festa inteira mexendo uma panela imensa de pernil, ajudando a montar os sanduíches. Canseira total. Dores musculares, roupa suja. Maravilha.
E esse ano, quando ela me ligou de novo e me convocou, lá fui eu. Hoje passei o dia na beira de uma panela de pernil de porco, sentindo um cheiro delicioso que está até agora impregnado em mim (assim que postar isso aqui vou tomar banho, juro, pois tenho uma festa daqui a pouco) e super feliz.
Fiquei pensando muito sobre essa coisa de se cansar, de se exaurir e reclamar. É mais ou menos como eu me sinto aqui. De vez quem quando eu também me canso de escrever todos os dias, de postar, de vir aqui, e alimentar esse blog. Algumas coisas cansam sim, mas cansar-se não é ruim. Sério. E aqui também eu não sei se quero estar do lado de lá.
Muito mais legal estar do lado de cá dessa minha barraquinha e vender esses meus posts de sanduíches de porco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário