segunda-feira, 5 de junho de 2006

charutos, busca detalhada

clic*
Sábado, tarde da noite. Estávamos no com um casal amigo nosso aqui em casa, o Zé contando pela milionésima vez sobre a viagem de Cuba, quando lembrei.
- Zé, os charutos!
Além da mala de rum, que aniquilou um grande número de amigos nossos, ele trouxe uma quantidade absurda de charutos. Esquecemos completamente deles.
- Ah, é mesmo. Pega lá, Lu – ele disse animado, olhando para os nossos amigos – Vamos fumar charuto?
A V. , nossa amiga, foi a primeira a confessar.
- Olha, gente, nunca fumei isso.
- Bem, nem eu, obviamente... – confessei.
Foi quando o marido da V., o M., riu.
- Eu também não, se vocês querem saber.
Olhamos os três para o Zé.
- Já ganhei um monte, mas eu nunca...
Foi quando a V. declarou, tirando o cachecol e o casacão.
- Então vamos resolver isso já. Vamos todos fumar charutos pela primeira vez. Hoje ou nunca.
- Tá tirando a roupa porquê? - perguntou o marido dela, estranhando.
- Charuto dá o maior cheiro. Se fosse vocês tirava também.
O Zé tirou o casaco. O marido da V., o M., protestou.
- Que é isso, que frescura. Querem fumar nus? É um tipo de ritual cubano?
Peguei a caixa. Colocamos um charuto enorme no meio da mesa. Nos entreolhamos.
- Vamos todos fumar um só? – perguntou o Zé.
- Se der certo a gente pega mais – falou o M.
- Onde é a parte da frente e onde é a de trás? Tem um lado tapado – falou a V.
O M. explicou.
- Esse lugar tapado é justamente por onde se fuma. Um tio meu fazia assim: ele ficava com o charuto apagado na boca, babando nele um tempão. Quando amolecia bem, ele mordia essa ponta e cuspia bem longe. Pra qualquer lado, sem rumo. Um cuspão.
- Cuspia? Eca. – falou o Zé.
- Faça isso, M., vamos – pedi.
A V. ficou brava.
- Não cuspa no chão da casa dos outros, meu bem.
- Eu deixei, sou a dona da casa – argumentei – Vai, faz.
- É nojento, mas charuto é nojento – o M. explicou – quando eles falam na caixa “hecho a mano”, não é bem “hecho a mano” e sim “hecho a língua e cuspe”, porque os cubanos lambem e colam essas folhas de tabaco com o cuspe da boca deles. Sabiam?
- Pára com isso, M., que assim eu não fumo – declarou o Zé – Colocar baba de cubano na minha boca. Urgh.
- Vamos M., morda e cuspa logo!- ordenei.
M. suspirou, me olhou, mordeu a ponta do charuto e cuspiu bem longe. Todo mundo gritou.
- Argh!
- Agora acenda – falou o Zé.
Estávamos todos ansiosos.
O M. fez um grande esforço, usou um monte de fósforos, ficou quase roxo.
- Pronto - ele disse, me passando rapidinho o charuto aceso.
- Eu? Já? Mas você nem babou.
Tentei. Aspirei de leve. Nada. Médio. Nada. Mais forte. Nada. Aspirei muito forte, com toda a força dos meus pulmões. Consegui fumar um pouquinho. Mas chupei tão forte, mas tão forte, que traguei tudo e tive um acesso de tosse nojento.
- Você tragou! – gritou o Zé, bravo - Não podia tragar, Lu!
- Sem querer! Desculpa!
Lá foi o Zé. Igualzinho eu. Fraquinho, médio, forte, muito forte, vulcânico e arrghh. Nada.
- Não sai nada dessa coisa, pô.
- Conheci um cara que molhava o lado da boca no licor – disse a V. – Quem sabe assim amolece e sai mais fumaça?
- Já sei. Vamos molhar no rum – falou o Zé, indo buscar a garrafa – Rum é melhor que licor nesses assuntos cubanos.
A V. foi a primeira a fumar com o rum na ponta. Fraquinho, médio, forte, muito forte, vulcânico. Ficou roxa, espremida e chupada, baforou exibida.
- Que acham? Consegui ou não?
- Não vi fumaça saindo da sua boca, V. – declarei.
- Vou tentar de novo, você fotografa.
Peguei a máquina.
Clic*.
- Saiu um tiquinho, mas não tenho certeza se foi da sua boca – eu disse.
- É que tá horrível esse charuto com gosto de rum e me deu ânsia – ela disse, dando o charuto ao marido e rindo.
Ele tentou de novo, não conseguiu. De raiva, mordeu um pedaço enorme da parte de trás e cuspiu mais longe ainda. O charuto ficou todo esgarçado.
- M.! – falou minha amiga, brava – Pára com isso, está estragando.
- Tá me dando ódio desse charuto entupido. Coisa mais travada pra fumar!
- Vai ver que a gente tá sem paciência... – eu disse.
Foi quando o Zé percebeu. Suspirou fundo e balançou a cabeça.
- Gente. Vamos assumir. A gente não sabe fumar.
- Como não sabemos? – falou o M. – Acha que tem técnica?
- Claro. Não sabemos fumar charuto, estamos fazendo coisas erradas - ele levantou - Perai que eu já volto.
- Aonde você vai, Zé? – estranhei.
- Ué. No Google. Vou colocar “charutos”. E depois, na busca detalhada, “como fumar”.
O Zé é engraçado.
- Ahahaha. Tente clicar no “estou com sorte” também, Zé – disse o M..
Tivemos um acesso de riso absurdo. Foi quando o Joãozinho entrou na sala.
- Mãe. Pai. Gente. Que foi? Que é isso que vocês estão fumando ai?
- Charuto cubano, filho – eu disse.
Ele olhou para todos nós bem devagar.
- Charuto cubano. Tá. Tá bom. Charuto cubano. Essa é boa...

Obs.1: Para quem quiser saber, tem 66.500 resultados no Google para “charutos - como fumar”. E mais: 98 resultados para assuntos acadêmicos. Uau. É coisa séria.
Obs. 2: Não conseguimos, nem com ajuda do Google. Desistimos em seguida, depois que todo mundo ficou muito enjoado.


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