quinta-feira, 18 de maio de 2006

Zuuupt!



Esse final de semana passada aconteceu um fato inédito. Consegui ir ao cinema com meus três filhos. A última vez que isso aconteceu foi há dois ou três anos atrás, no primeiro dia do ano, numa estréia do Senhor dos Anéis - um filme que vi, adorei e não entendi patavina. Aliás, vi todos os Senhores dos Anéis sem entender direito quem era do mal, quem era do bem e onde eles iam chegar com aquilo.
Ver um filme em família é ótimo, pois é como compartilhar de uma história em conjunto. Isso torna o grupo familiar mais unido - o que, no meu caso, significa termos em comum mais uma lista enorme de gracinhas e bobeiras. É como viajar em família, coisa que adoro também, apesar de sentir que nas viagens, como o tempo é maior, as idades mentais minha e do Zé caem muito - acabamos nos transformando em duas crianças, brigando pelas coisas mais inúteis e tirando sarro um do outro.
- Hahaha, Zé, você se ferrou! – eu disse um dia à ele num restaurante.
Afe. Absurdo uma esposa falar isso.
Mas voltemos ao cinema. Agora que os meus filhos estão maiores, podemos ver filmes bons junto e nesse sábado fomos assistir 'Caché'. Apesar da implicância com o cinema de rua que eu escolhi – eles gostam de cinema de shopping, onde obviamente podem consumir mais um monte coisas além do ingresso e da reles balinha – e da implicância com o filme – eles preferem comédias que falem asneiras, ainda mais quando estão juntos - fomos.
Chegamos, o cinema estava vaziíssimo.
- Ichi. A mamãe trouxe a gente pra ver um filme mó-mico.
- Aposto que é tosqueira.
- Tem quatro estrelas no livrinho da Folha, gente.
- Dá um dinheiro preu comprar pão de queijo, plis.
- Quero uma coca.
- Pra mim frutela.
Não vou aqui fazer crítica do filme. É legal, mas concordo com tudo que falou o Caio, um amigo que fez uma crítica legal no recém fundado blog dele, podem conferir. Fico somente com a idéia de que certos traumas de infância a gente simplesmente não esquece – e que a nossa vida pode ser totalmente norteada por isso, como mostra o filme. É uma idéia bastante doentia, mas intrigante.
Mas que eu queria levantar é que, tendo ido com os filhos adolescentes e compartilhado com eles a história, mais esse filme passou a fazer parte da nossa vida e nosso imaginário familiar – tanto a trama quanto algumas cenas. E – é engraçado – os meus três filhos, desde sábado, a toda hora me olham e zuuupt – passam o dedo no pescoço, em alusão à cena horrível onde um dos personagens corta a goela e esguicha sangue pra tudo quanto é lado. Eu grito, eles morrem de rir. Repetidamente. Repetidamentee. Repetidamente. Olha, eles já cortaram a goela umas duzentas e quarenta mil vezes aqui dentro de casa desde o final de semana.
Olho para eles e...
Zuuupt!
E – engraçado também – na manhã de domingo eu fui pegar o jornal lá fora, abri a porta e achei esse desenho ai em cima no chão.
Bem, quem assistiu o filme entenderá...

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