Desde que me sou pequena que isso acontece, hoje em dia eu já nem ligo mais. Ajo com minha melancolia igual ajo as lagartixas da varanda: suspiro e espero. As minhas lagartixas são muitas e me afligem, mas cinco minutos depois que eu entro em casa eu já me esqueci delas. Já a melancolia demora 24 horas para passar, infelizmente.
Às vezes eu acho que tudo que faço aos domingos é somente para fugir dessa maldita melancolia. Tento burlar a sensação e vou tomar sol no quintal, vou almoçar fora, convido uns amigos, coloco música alta, saio para ir à pracinha, vou ao cinema, disfarço, finjo que não é comigo. Hã? Não, estou ótima, animadérrima hoje, eu penso. Volta e meia eu até rio de verdade, mas é só parar e olhar ao redor que a coisa volta. Hoje, por exemplo, minha casa está dez vezes mais animada do que nos dias de semana. Um dos filhos está fazendo uma reunião do grêmio da escola e tem uns quinze adolescentes tagarelando na sala, minha filha ouve música alta lá em cima e o Zé está com um amigo na copa.
E eu nessa pasmaceira.
Não sei de onde vem isso e nem se isso acontece com todas as pessoas. Já tentei me lembrar da minha infância, de algum trauma, de alguma grande decepção ou tragédia. Nada. Aliás acho que se tivesse ocorrido alguma coisa, nem que não fosse boa, eu ia me lembrar da coisa e não sentiria um vazio tão grande. O problema da melancolia, na minha opinião, é justamente você não se lembrar de nada. A melancolia, pelo menos a minha, é a ausência da memória. E não é uma ausência só sua: é uma total e geral ausência de memória e de existência de toda a civilização, o que é muito pior.
Por isso que eu detesto domingos. Repito. Detesto domingos. Podem me chamar de maluca, mas detesto. E, se dependesse de mim, o domingo seria um dia de trabalho igual aos outros e nunca esse dia morto morrido com esse ar de velório.Tem gente que espera a semana todo por ele. Eu passo o domingo todinho esperando a semana. Não entendo porque todo mundo pára de repente, essa é a questão. Descansar? Ah, vá. O sábado bastava, ora.
- Já sei. Monta um restaurante no Bexiga, lú. Você não tem um monte de parentes italianos, não tem sangue italiano? Queria ver se você ia se sentir melancólica no meio daquelas braciolas e macarronadas, ahá, queria ver! – falou o Zé.
Uau.
Olha que idéia boa.
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