segunda-feira, 13 de março de 2006

uma festa de 15 anos



- E ai, Nani – perguntei para a minha filha – Como foi a festa?
Ela tinha ido numa festa de 15 anos no dia anterior.
- Foi legal. Daquele jeito, você sabe.
- Valsa, gelo seco, as damas de honra...
- Mãe, muito mais. Olha, deviam fazer um concurso para saber quem ganha de invencionice. Essas meninas exageram muito nas festas. Lembra daquela festa da semana retrasada que que eu te contei que a menina saiu do meio de uma nuvem?
- Lembro. E teve aquela que a menina desceu do teto, num tipo num elevador.
- A de ontem, nesse quesito, era mais discreta. Mas o resto...
- Conta.
- O lugar era legal. Música boa, diversos salões. Comida eu não sei, só vi umas coisas de padaria, tipo pão e torrada, mas eu não fui lá para comer mesmo.
- Sei.
- O absurdo veio à meia noite. Antes da valsa. Apagaram as luzes e começou um filme.
- Filme?
- É. Mandaram fazer um filme da vida dela, e quem atuava era um artista da Globo, um ator da novela das oito. Sei lá, disseram que ele era parente dela, mas se fosse parente ele estaria na festa, não acha? Não colou, acho que ele foi é contratado para fazer aquilo. Bom, o filme começou. O cara ficava falando dela, dizendo que ela era demais e tal. Em nenhum momento ele aparece ao lado dela, isso que era estranho... Uma hora ele mostrou uma foto que tirou com ela – uma, única. Ora, se ele fosse parente mesmo tinha um monte de fotos com ela, não acha? Pelo menos, sei lá, dos natais, das festas de família...
- Concordo.
- Isso foi só o começo. O filme era um longa metragem, mãe, um saco. Mais de uma hora! Bem, depois que o cara falou e falou dela, começou uma retrospectiva. Mãe, ela tem só 15 anos, nem tinha o que falar, foi a maior enrolação. E depois – você não vai acreditar – teve a parte onde ela e a mãe contavam como foi a execução da festa. Tipo assim... um... making off. Foi ai que a coisa virou baixaria.
- Como assim?
- Porque só tinha propaganda. Tá na cara que ela conseguiu desconto para aquela festa por causa daquela meia hora de filme. Que vergonha.
- Hã? Como é?
- Mãe, prestatenção que eu vou explicar. Ela ia numa loja. Aparecia uma cena dela com a mãe escolhendo o vestido, e atrás estava escrito bem grandão o nome da loja: Daslu. Depois aparecia ela escolhendo o buffet, o homem atendendo ela e a mãe, e o nomão do buffet atrás. Pimba. Depois a mesma coisa na loja das flores, na loja dos docinhos, na mulher das lembrancinhas, e até no cara que deu aula de valsa para ela. E sempre atrás dela e da mãe o lugar, a grife, a marca. O que você acha?
- Eu não acho mais nada, filha.
- A festa deve ter saído pela metade do preço.
- Quantos convidados?
- Quinhentos.
- Todos da tua idade?
- É. E Estamos no começo do ano, mãe. E todos vão fazer quinze anos.
- Putz. Bela propaganda...
- Também acho. Essa semana tem outra festa, eu te conto depois como foi. Ah, trouxe um monte de bem casados. Tem o logotipo da loja também. Quer ver?

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