Na saída do exposição do Dudi, na terça feira, vi o Carlos Fajardo. O Fajardo é artista plástico e foi professor de todos meus amigos arquitetos aqui em São Paulo, pois ele dava aula de desenho em cursinho.
Eu tive aula com ele quando tinha uns quinze anos. Não fiz cursinho, mas fiz um curso no seu atelier durante dois anos. Eu sempre adorei desenhar.
Nunca mais vi o Fajardo até aquele instante, na porta da exposição do Dudi. O Zé sempre fica bravo quando eu abordo subitamente uma pessoa, principalmente se essa pessoa for um homem, mas não agüentei. Quando olhei o Fajardo me lembrei de uma história fantástica que aconteceu numa das aulas dele e tive a maior vontade de perguntar se ele se lembrava daquilo.
Eu tive aula com ele quando tinha uns quinze anos. Não fiz cursinho, mas fiz um curso no seu atelier durante dois anos. Eu sempre adorei desenhar.
Nunca mais vi o Fajardo até aquele instante, na porta da exposição do Dudi. O Zé sempre fica bravo quando eu abordo subitamente uma pessoa, principalmente se essa pessoa for um homem, mas não agüentei. Quando olhei o Fajardo me lembrei de uma história fantástica que aconteceu numa das aulas dele e tive a maior vontade de perguntar se ele se lembrava daquilo.
Óbviamente, abordei.
Foi o seguinte: a nossa aula era no meio da tarde e o nosso grupo era de mais ou menos umas oito pessoas. Eu, uma menina de quinze anos, e sete senhoras em torno de sessenta anos. A aula tinha um modelo vivo, que desenhávamos durante uma hora, depois colocávamos todos os desenhos expostos numa mesa e o Fajardo comentava. Ele falava das sombras, das linhas, do volume, do modo que colocávamos o desenho da folha, do modo que riscávamos o papel, mas ele falava muito, mas muito do olhar. Era isso que importava, ele dizia: saber olhar. O Fajardo nunca ensinou ninguém a desenhar. O Fajardo ensinava a olhar.
Um dia, sei lá porquê, nessa hora dos comentários ele começou a maior conversa com uma das senhoras por causa dos desenhos dela. Acho que ela não entendia o que ele explicava, só sei que ele ficou muito nervoso. Saiu da sala, entrou numa salinha ao lado e voltou com uma bandeja. E, em cima dela, uma maçã.
- Olhe para isso aqui – ele falou para a mulher, sério.
Ninguém entendeu nada, nem ela.
- Pronto, já olhei – ela disse.
- Então me diga. O que é isso?
- Uma... uma maçã numa bandeja...? – ela respondeu, confusa.
- Isso mesmo. Agora pegue - ele ordenou - Vamos, pegue!
A mulher, hesitante, pegou a maçã nas mãos, olhou e devolveu.
Foi quando ele fez uma coisa engraçada. Deu um rodopio no lugar, se colocou na frente da mulher de novo e falou bem alto:
- Agora olhe de novo.
Ela olhou, mais confusa ainda, a pobre da maçã.
- Sabe ainda o que é isso? – ele perguntou mais uma vez para ela. Mas, antes que ela pudesse falar qualquer coisa, ele próprio respondeu – Olheaqui. Isso aqui é um peito.
Todo mundo levou um susto.
Foi o seguinte: a nossa aula era no meio da tarde e o nosso grupo era de mais ou menos umas oito pessoas. Eu, uma menina de quinze anos, e sete senhoras em torno de sessenta anos. A aula tinha um modelo vivo, que desenhávamos durante uma hora, depois colocávamos todos os desenhos expostos numa mesa e o Fajardo comentava. Ele falava das sombras, das linhas, do volume, do modo que colocávamos o desenho da folha, do modo que riscávamos o papel, mas ele falava muito, mas muito do olhar. Era isso que importava, ele dizia: saber olhar. O Fajardo nunca ensinou ninguém a desenhar. O Fajardo ensinava a olhar.
Um dia, sei lá porquê, nessa hora dos comentários ele começou a maior conversa com uma das senhoras por causa dos desenhos dela. Acho que ela não entendia o que ele explicava, só sei que ele ficou muito nervoso. Saiu da sala, entrou numa salinha ao lado e voltou com uma bandeja. E, em cima dela, uma maçã.
- Olhe para isso aqui – ele falou para a mulher, sério.
Ninguém entendeu nada, nem ela.
- Pronto, já olhei – ela disse.
- Então me diga. O que é isso?
- Uma... uma maçã numa bandeja...? – ela respondeu, confusa.
- Isso mesmo. Agora pegue - ele ordenou - Vamos, pegue!
A mulher, hesitante, pegou a maçã nas mãos, olhou e devolveu.
Foi quando ele fez uma coisa engraçada. Deu um rodopio no lugar, se colocou na frente da mulher de novo e falou bem alto:
- Agora olhe de novo.
Ela olhou, mais confusa ainda, a pobre da maçã.
- Sabe ainda o que é isso? – ele perguntou mais uma vez para ela. Mas, antes que ela pudesse falar qualquer coisa, ele próprio respondeu – Olheaqui. Isso aqui é um peito.
Todo mundo levou um susto.
Hã?
- Um peito – ele disse bem alto, olhando nos olhos dela – Peeeito.
Peito?
E virou-se para a mulher e ordenou:
- Agora pegue esse peito.
A mulher se encolheu toda. Deu um gritinho .
- Nããão..!
Foi muito engraçado. Depois que ele falou “peito”, a mulher se recusou a colocar a mão na maçã. Não tenho a menor idéia do que essa história tinha a ver com a aula e com o desenhos dela, mas nunca me esqueci. Pois, para aquela mulher, a imagem mudou completamente por causa de uma palavra. Uma única palavra, gente. Foi uma transformação literária. É o poder das palavras sobre o poder da imagem.
- Um peito – ele disse bem alto, olhando nos olhos dela – Peeeito.
Peito?
E virou-se para a mulher e ordenou:
- Agora pegue esse peito.
A mulher se encolheu toda. Deu um gritinho .
- Nããão..!
Foi muito engraçado. Depois que ele falou “peito”, a mulher se recusou a colocar a mão na maçã. Não tenho a menor idéia do que essa história tinha a ver com a aula e com o desenhos dela, mas nunca me esqueci. Pois, para aquela mulher, a imagem mudou completamente por causa de uma palavra. Uma única palavra, gente. Foi uma transformação literária. É o poder das palavras sobre o poder da imagem.
Peito.
Contei isso para ele logo após a abordagem, diante dos olhares atônitos do Zé e da moça que acompanhava o Fajardo.
Contei isso para ele logo após a abordagem, diante dos olhares atônitos do Zé e da moça que acompanhava o Fajardo.
Ele começou a rir. Não se lembrava de nada.
- Eu falei isso? – ele disse, pasmo.
- Falou, Fajardo. Acha que eu ia inventar uma história dessas?
- Nossa. Um peito?
- É. Peito.
Ele saiu rindo. Acho que nem ele entendeu até hoje.
Peito, gente.
- Eu falei isso? – ele disse, pasmo.
- Falou, Fajardo. Acha que eu ia inventar uma história dessas?
- Nossa. Um peito?
- É. Peito.
Ele saiu rindo. Acho que nem ele entendeu até hoje.
Peito, gente.
Peito.
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