domingo, 19 de fevereiro de 2006

sos - salvem os não pulantes



Ontem eu, como milhões de pessoas, passei a noite assistindo o show dos Stones.
Sou da época deles, adoro, tenho discos, dançava nas festas quando era adolescente, era encantada com o Mick Jaegger e sua mega boca, e, claro, assisti ao mega show.
Pela TV, óbvio.
Deixa eu confessar uma coisa: jamais iria num show daquele tamanho. E acho esquisitérrimo que tanta gente pense exatamente o oposto que eu e... vá.
Falaverdade, aquilo é insuportável, gente.
Não é por causa da idade nem por frescura, mesmo quando eu era menina eu não ia. O motivo não é a lotação ou o incômodo, mas outra coisa: eu não entendo qual é a graça de pular e cantar enquanto você assiste à um show. Eu simplesmente não consigo pensar em fazer isso. E nesses mega shows, só se assiste assim.
Pulando e berrando.
Uma vez, na minha juventude, fui assistir a um megashow de rock com uma amiga. Lembro que ficamos mais ou menos lá na frente, um lugar ótimo. No início eu estava animada, me achando praticamente num woodstock, naquela época era muito bacana ser um pouco hippie. Bom, essa alegrai foi só no começinho. Logo que a coisa esquentou, as pessoas ao meu redor começaram a pular e a cantar, berrando muito. Levei o maior susto. Olhei para os lados e vi que todas, mas absolutamente todas as pessoas ali faziam a mesma coisa. Suspirei fundo e comecei a pular junto. Aliás, se eu não pulasse, além de não ver nada, certamente seria pisoteada. Acho que pular é um modo de você desviar do suor nojento dos outros e não se machucar. É uma estratégia de sobrevivência, no fundo aquilo é muito perigoso. Olha, sinceramente? Era muito nojento. Foi ali que eu percebi o quanto era estranho ir a um show de rock. Escuta, para quê pular olhando para o músico? Parecia coisa de fanático de igreja, de aula de aeróbica.
Bom, foram momentos constrangedores. Eu pulava e me via de fora, imaginando a cena ridícula onde eu pulava feito macaca segurando a minha bolsa e fazendo cara de nojo. Além disso, eu estava sem graça e com vergonha de algum conhecido me ver ali.
Vexame.
Já minha amiga adorou. Quando o show terminou, ela me disse sorrindo:
- Nossa, que bárbaro!
Vai entender.
Depois desse dia traumático, decidi. Nunca mais. Se me chamarem para assistir a um show dos Stones e eu puder ter a opção de ficar sentada, sem cantar e nem pular, eu vou. Mas daquele jeito, nem morta.
O problema é que eu não vejo a menor necessidade de berrar só porque o Mick Jaegger está na minha frente. E muito menos ficar histérica e desesperada. Desespero dá na gente quando a gente está numa situação sem saída, limítrofe, perigosa. E assistir a shows tendo que berrar sem legitimidade é muito chato.
Desde então, sempre que mega shows são televisionados, eu presto muita atenção no público. E, ano após ano, noto que as pessoas continuam pulando. Ô tristeza. Tenho a esperança que um dia essa moda mude e que um dia as pessoas que não pulam possam assistir a shows. Porque se tem alguém discriminado nesse mundo, somos nós, os não pulantes. É um absurdo o que fazem conosco. Óbvio que deveriam existir cotas para os não pulantes em shows.
Hahaha... Ichi.
Será que alguém vai concordar comigo?

Nenhum comentário: