quarta-feira, 21 de setembro de 2005

a massagem


Era aniversário de uma minha amiga, estávamos num bar para comemorar. No meio das inúmeras conversas, a aniversariante reclama de uma dor que a atormentava há dias. Alguém sugere férias, alguém dá um palpite sobre uma doença, alguém recomenda um massagista.
- Um cara ótimo. Ele te vira do avesso, você sai arrumadinho. Não é caro. Aqui na Vila Madalena.
Olha, eu não gosto dessa coisa de ir a massagistas. Não falo nada pois sei que hoje em dia não gostar de massagem gera muita polêmica. As pessoas não se conformam. Se antigamente as pessoas discordavam e discutiam em reuniões por causa de partidos políticos ou opiniões filosóficas, os humanos de hoje se digladiam por causa de métodos de relaxamento e prazer.
- Imagine gastar aquela fortuna no analista. Bastava um mês de shiatsu.
- Que isso! Florais e ioga, shiatsu não adianta nada.
- Prefiro uma boa corrida e uma sauna.
- Bah. Acupuntura, gente. E muita academia.
Mas ontem não agüentei. Falei que eu jamais iria a um massagista.
E em seguida começou a indignação geral.
- Afe, lúcia, que é isso? Fazer massagem é uma delícia, relaxa, blá, blá, blá.
- Eu sei que é bom – expliquei – também gosto de fazer massagem. O que não gosto é da idéia de fazer massagem com um massagista.
- Como é?
- Acho estranho um homem desconhecido pegando em mim. Não adianta, não relaxo.
- Você está maluca, lúcia?
É isso mesmo. Agora, que estou sozinha, com calma, tempo, com minhas palavras e sem repliques indignados, vou explicar melhor.
Receber uma massagem é muito bom, muito gostoso. De massagem eu gosto. O que eu não gosto de fazer com massagistas. Das vezes que fiz, não relaxei, fiquei tensa e tive agonia quando senti aquelas mãos alheias em cima de mim.
É exatamente isso. Ser pega e amassada por mãos estranhas me deu uma enorme aflição. Não gostei de entregar meu corpo para uma pessoa que eu nunca vi, que não sei nada da vida, que não sei se tem mãos limpas, se tem energia boa, se é do bem ou do mal, apenas para sentir um misero prazer. Não, não.
Aliás, aquilo não me deu prazer.
Uma massagem é um contato muito íntimo, muito pessoal, é para ser feita com as mãos de uma pessoa sobre o corpo da outra, pele com pele. Não dá para imaginar esse contato com mãos desconhecidas. Para mim, pagar por uma massagem é um tipo de prostituição.
- E se você conhecer o massagista? – falou outro amigo, rindo – se ele for um amigo seu?
Não seria mais legítimo isso? Amigos se massagearem quando estivessem estressados?
É que detesto solução pronta, e massagem para relaxar é solução pronta. Acho que, no final das contas, as pessoas fazem massagens porque são sós. Muitas das dores nas costas, nas pernas, no corpo são dores da mente, dores de ressentimento, de raiva, de pressa, de sisudez. Muita gente resolveria a vida se, ao invés de pagar para ser massageada, ganhasse um abraço bem legal, um elogio, um sorriso, dois dedos de prosa. Essa coisa que massagem relaxa, essa comercialização do relaxamento do corpo que leva as pessoas a se venderem no meio dos shoppings e aeroportos por 10 minutos de prazer numa cadeirinha de bunda empinada me enoja. Prazer físico não se vende, gente. Prazer físico a gente sente com quem a gente gosta.
E não se fala mais nisso.

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