segunda-feira, 27 de junho de 2005

Benção, São João


Aconteceu na sexta feira, no dia 24 de junho.
Dia de São João, pra quem não sabe.
Fim de tarde. Acabei de trabalhar e fui passear de blog em blog, pitando um comentário aqui e ali. Quando passei na Sheila, li que um amigo dela chamado Jorge estava com um blog novo.
Lá fui eu. Um blog interessante o dele, mas daqueles com fundo preto. Acho tão estranho esses blogs pretos... O que leva uma pessoa a escolher um fundo preto pra escrever? Desde os primórdios da escrita que se escreve em preto sobre branco e não ao contrário. Sei lá, pode ser um jeito de viver a vida ao contrário, quem sabe? Uma hora perguntarei para ele.
Bom, comecei a ler o blog do Jorge. Era interessante, muitos poemas, fotos legais, arte e literatura. O post mais recente era sobre o dia de São João.
Ele contava um pouco da história do Santo e falava que existia uma tradição de se tomar vinho no dia de São João. Essa tradição mandava que todos da família tomassem vinho, até as crianças – para elas era necessário ferver o vinho com açúcar e fazer uma espécie de sangria. Tinha até uma receita. Bem, pelo menos foi alguma coisa assim que eu li, eu sou ligeiramente atrapalhada e tenho o dom de inventar um pouco, mas tenho certeza que li sobre o vinho e a sangria.
Hummm... vinho, pensei.
Legal.
Eu comprei algumas garrafas de vinho Periquita na semana passada, e como não veio ninguém aqui em casa e o Zé não toma vinho, acabei não abrindo nenhuma. Todo dia eu olhava pra elas e nada. Estava com vontade doida de tomar vinho e precisava de uma boa desculpa. Ora, pensei, uma desculpa dessas é uma maravilha. Uma desculpa de Santo tem credibilidade ímpar. Dei um suspiro satisfeito. É hoje.
O Zé chegou e eu logo avisei.
- Hoje é dia de São João e São João a gente brinda com vinho.
- De onde você tirou isso?
- De um blog. Reza a lenda que temos até que dar vinho para as crianças. Tipo sangria.
- Meu pai fazia sangria para a gente... – o Zé lembrou – Mas eu não tomo vinho que me dá dor de cabeça, você sabe. Toma você que eu tomo outra coisa.
- Eu vou tomar. É São João, Zé. E Santo é Santo.
Abri a garrafa, toda feliz. Bom, eu nunca fui muito boa de bebida, um copo de vinho já me deixa meio zonza, e eu acabei tomando dois copões enormes. Quando acabou o jantar, vi um pouco de tv e voltei para o micro, já meio zonza, para dar uma olhada nos e-mails e desligar. Fui aqui, ali e resolvi voltar no blog do Jorge.
Gente.
Esquisito.
Olhei para o blog dele e nada daquele post do São João e do vinho. Tinha sumido completamente. Era como se não existisse, nem o post, nem o Santo, nem os comentários, nada. Eu, que já estava meio bebadinha, fiquei encafifada. Será que eu sonhei? Cadê o Santo?
“Olha o que dá beber muito vinho”, pensei. Mas quando eu li o post eu não tinha bebido nenhuma gota, como é que podia uma coisa dessa? Será que foi uma mensagem de Deus que eu recebi via Internet? Olha as coisas que passam na cabeça da gente na hora que a gente está com álcool demais na cuca. Absurdo.
Encasquetada, fui descendo pelo blog até achar um e-mail. Escrevi para ele.
- Jorge, ou eu fiquei maluca ou tomei vinho demais. Não tinha um post sobre São João no seu blog?
Um pouquinho depois veio a resposta. Ele estava online, graças a Deus, ou melhor, graças ao São João.
- Tinha, lúcia, mas eu tirei porque era o São João errado, o Evangelista. Hoje é dia do Batista. Era vexame demais, tirei.
Gente, tomei vinho pro Santo errado. Ichi.
E daí a pouco entrou o Santo certo no blog. O Batista. Sem nenhuma história de vinho, só de batizado e de água. Nem sei se o Batista gosta de vinho, ô meu Deus.
Agradeci a explicação e desliguei o micro. É um perigo escrever em blogs depois de beber dois copões de vinho, sei disso.
E não tomei mais nenhuma gota naquele dia. São João Batista que me perdoe, mas juro, foi tudo culpa do Jorge.

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