domingo, 27 de fevereiro de 2005

pesadelo polifônico



Desde o natal que eu não comprava coisas. Cada dia mais eu acho que ir ao shopping é um pesadelo. Se eu não saio de lá exausta, saio irritada, tensa, furiosa. Parece que todas as vendedoras fazem um complô para enlouquecer os clientes. Um horror.
Desta vez foi o problema dos celulares. Os celulares me perseguem, acho. Lá fui eu com os filhos e o Zé para resolver uma questão importantíssima (entenda-se o contrário, óbviamente) de "comunicação familiar". Decidimos que cada um deveria ter um telefone, nem que fosse um modelo simples, para nos falarmos. Somos cinco. Distribuindo os aparelhos existentes que ainda funcionavam, chegamos a conclusão que deveríamos adquirir dois.
Era para comprarmos dois aparelhos básicos, mas é incrível como somos uns bocós. Fomos iludidos pelos vendedores em menos de dez minutos, todos nós. E aí que começou o pesadelo: não basta ter um celular que apenas fala.
A vendedora nos sorria sem se alterar, com sua cara de burra.
- Ora. Mas para que os senhores vão comprar esse modelo de cento e quarenta e nove com uma conta póspaga qualquer, se vocês podem fazer esse plano de setenta reais por mês e comprar esse aparelho de duzentos e noventa e nove com câmera fotográfica, viva voz e sons polifônicos, que é mil vezes melhor?
Ora, para que comprar uma coisa mais simples e mais barata, gente?
Quer saber? Uma coisa que deveria ser resolvida em vinte minutos levou mais de três horas. Juro. O tal celular da promoção teve que vir de outro shopping, o gerente que tinha que aprovar o negócio ia chegar só as seis horas, a moça vendedora teve que mostrar uma lista de números para escolher que causou uma briga entre os filhos, precisávamos de um comprovante de residência e o Zé teve que voltar em casa, minhas pernas doíam, a Nani resmungava e nós nos perdemos um dos outros três vezes naquela shopping.
Bem, pensando bem, os celulares são bem bacanas, iinfelizmente, eu não fiquei com nenhum deles e lá se foi minha chance de ter um celular com máquina.
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Mas a questão que me encuca é outra. O que, exatamente, nos dá a sensação de enlouquecimento dentro de um shopping? O Zé fala que os shoppings "esbugalham os olhos da gente", pois tem excesso de informações. Ele, que é um pouco míope, sai de lá com dores na vista. Sim, ele tem toda razão. Já eu acho que esse "esbugalhamento", para pessoas com hormônios femininos, vai além do visual. Sou atropelada pelo consumo em todos os sentidos: o maravilhoso mundo das compras me pega pelos olhos, pelos ouvidos, pelo cheiro, pelo paladar, pelo cérebro, pelo corpo.
Shopping. Avemaria.
É como levar uma surra.

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