sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

o chiclete, a cocada e o mictório



E tem a história da cocada. Tem uma mulher na estrada que liga Ilhéus a Itacaré, a Dona Vani, que faz cocadas ma-ra-vi-lho-sas. O curioso é que ela nem é baiana, é paulista do interior de sp. Foi pra lá há cinco anos e montou um lugar para vender empada e cocada na estrada. As empadas dela são deslumbrantes e as cocadas então, nem se fala.
Toda vez eu trago cocada de lá. E cada vez tenho mais pedidos de cocada. Ontem eu tinha que trazer pra o Zé, pra a Maria, pra a secretária do dono da casa e para os engenheiros que não foram.
- Quero... uma dúzia de sacos de cocada! – pedi, ontem, animada.
Quando olhei tamanhão do pacote, hesitei. Mas... como não trazer aquela delícia? Assim, além das pedras, lá estava eu no aeroporto com um outro sacão, esse cheio de... cocadinhas de fita.
Notem bem. Um saco não podia amassar, o outro nem dava para carregar de tão pesado. Tudo estava meio confuso, eu cansada e imunda, o fiscal da TAM de walkie talkie atrás de mim me bajulando, as moças de cabelo colado me olhando meio torto, eu me achando a maior fotógrafa e tirando foto do homem da Vinci (o Mona - leitor do post anterior).
No meio disso tudo, a Silvia, a decoradora que foi comigo, me olhou, faminta.
- Ei. Vamos comer cocada enquanto o avião não chega?
- Oba, eu topo – falou o marceneiro, animado, me olhando mais faminto ainda – Abre ai o saco de cocada, lúcia! Libera as cocadas para a gente!
Hum, que delícia. Eram sete e meia da noite e a gente estava morrendo de fome.
- Peraí – falei para a decoradora – Deixa eu jogar fora o meu chiclete.
Fui até o lixo. Pensei primeiro em cuspir o chiclete, mas achei muito feio uma mulher dar uma cusparadona em público. Assim, tirei o chiclete da boca com a mão, discretamente, para jogar fora. Acontece que o chiclete grudou no meu dedo e não desgrudava de modo algum. Eu passei a sacudir a mão, meio de leve, sobre o lixo. Mas que droga, não desgrudava. A sala de embarque lotada, cheia de americanos e italianos, e eu lá no meio, tentando me livrar do chicletinho mascado em cima da lata de lixo, na maior dança, sacolejando a mão e o braço. Caramba.
Não consegui mesmo, o negocinho grudava numa mão e depois na outra. Já irritada, tive que (argh!) colocar o dedo dentro da lata de lixo para desgrudar, na frente de todo mundo. Senti os olhares americanos, italianos e da-vincianos descofiados: “... o que essa louca está fazendo esfregando a mão dentro do lixo?”.
Ufa. Enfim consegui descolar o chiclete do dedo. Voltei para a minha cadeira para comer a cocada.
Mas como eu ia abrir a cocada com aquela mão imunda de lata de lixo?
- Ai, Silvia, guentaí que vou no banheiro lavar a mão.
- Vai logo, que estou quase atacando sua sacola.
Eu juro que achei que aquele desenho na porta do banheiro era uma “mulherzinha”. As pernas pareciam uma saia longa... seri lá, acho que estou variando um pouco.... Só sei que entrei correndo no banheiro, liguei a torneira, olhei para o lado e vi.
Três mictórios bem ali, do meu ladinho.
Vazios, ainda bem. Sério, nunca tinha visto um mictório tão de perto.
Céus, entrei no banheiro de homens! Céus, e tinha gente na cabine!
Sai correndo dali sem sequer secar as mãos, sob as risadas de quase todo mundo daquela sala de embarque, que, óbvio, viram tudo.
E enfim, devoramos um pacote enorme de cocada.
Que dia.

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